Mais uma
jornada da Liga dos Campeões passou, desta feita com os resultados esperados. O
Benfica cumpriu com a sua missão ao vencer na Bélgica, com maior ou menor
dificuldade isso pouco importa no contexto em que estamos : o importante,
sobretudo na fase de grupos da Champions, são mesmo os três pontos e eles foram
conseguidos. Em Paris não houve surpresa, com o Paris Saint-Germain a ganhar ao
Olympiakos, ou seja, a fazer aquilo que todos queriamos. Partimos assim para a
ultima jornada ainda na luta pela passagem aos oitavos de final, mesmo se essa
passagem não depende apenas daquilo que o Benfica fizer na Luz contra os
franceses. Com efeito, precisamos igualmente que o Olympiakos tenha um precalso
na Grécia frente ao Anderlecht. Por outras palavras, apenas nos resta fazer
duas coisas : o nosso trabalho frente ao PSG e acarditar que os gregos tenham
um dia mau e sem sorte contra os belgas (porque dia mau tiveram eles contra o
Benfica mas com muita sorte). Acarditar parece mesmo ser a palavra de ordem do
Benfica nas suas ultimas participações na fase de grupos da Champions, uma
"querença" que se esbarra contra a realidade dura da não
qualificação, com uma honrosa excepção. Senão vejamos :
Os adversàrios :
Não podemos dizer que o Benfica tenha
tido azar nos ultimos quatro sorteios relativos à fase de grupos da Champions.
Antes pelo contràrio. Das doze equipas que o Benfica defrontou, apenas duas
pertencem aos tubarões tradicionais da Liga dos Campeões : o Barcelona e o Man
United. Podemos incluir neste lote, mesmo se lhe falta a tradição, o PSG, um
dos mais sérios outsiders da competição deste ano, atras dos favoritos
Barcelona, Bayern e Real Madrid. Sobre as restantes, em teoria, ou estão mais
ou menos ao nivel do Benfica (Lyon, Schalke) ou lhe são inferiores a pouca
distância (Sp. Moscovo, Olympiakos), a alguma distância (Celtic, Basileia) ou a
grande distância (Hapoel, Otelul, Anderlecth).
Os grupos em que o Benfica tem entrado
são assim grupos acessiveis, com o que isto da acessibilidade significa no
futebol, ou seja, alguma coisa mas nunca uma facilidade como se as vitorias
fossem dados garantidos à partida. Sobretudo porque muitas vezes a qualidade
intrinseca das equipas não chega para justificar os resultados. O Celtic é um
excelente exemplo disso mesmo. Num campeonato em que é vencedor antes mesmo das
épocas começarem, o clube compensa a falta de qualidade da equipa com uma
entrega total à Liga dos Campeões, o que lhe permite obter, de tempos a tempos,
participações interessantes. Contudo, o Benfica deveria ter resultados inversos
aos que aconteceram : em vez de apenas uma qualificação e três eliminações
(conto aqui com a provavel eliminação deste ano), três qualificações e uma
eliminação.
Os resultados :
O que me conduz aos resultados dos
jogos, miseraveis em 2010/2011. Num grupo relativamente equilibrado, o Benfica
apenas obteu duas vitorias, tendo perdido quatro jogos, três deles fora sem que
um golo sequer tenha sido marcado e com essa historica derrota em Israel por
3-0 pelo meio. Salvou-se dessa participação 60 minutos de grande nivel face ao
Lyon na Luz e uma qualificação caida do céu para a Liga Europa onde fomos até
às meias-finais.
Em 2011/2012 tivemos a unica
participação de nivel dos ultimos anos. Não perdemos um unico jogo num grupo
onde se encontrava o Man United que acabou eliminado. Pelo meio um empate
interessante em Manchester onde não apenas a equipa jogou bem, mas como
igualmente os adeptos estiveram magnificos.
Em 2012/2013 tivemos uma participação
frustrante. Num grupo onde o Benfica era o favorito ao segundo lugar, acabou em
terceiro com exibições mediocres, com especial atenção para a exibição de
Glasgow onde o Celtic conseguiu o feito de ser ainda pior que o Benfica. Um jogo
com os seus condicionalismos. Javi e Witsel tinham acabado de sair e foi todo
um meio-campo novo que se apresentou. Não se podia esperar pois um grande
futebol, mas pelo menos podiamos esperar a vontade de ganhar que pura e
simplesmente nunca existiu.
Em 2013/2014... bem, o que dizer? Certo,
ainda nos podemos qualificar, mas por onde andam todos aqueles que falaram do
ranking UEFA?!? Dos muitos pontos obtidos na Liga Europa e que nos colocaram no
pote 1 da Champions? Todos aqueles, no qual Jesus também se inclui, que falaram
de uma nova era do Benfica na Champions, o pote 1 facilitando em muito as
qualificações que se tornariam a regra para os oitavos? Pois é, mais ninguém
fala disso. A verdade é que num grupo onde o Benfica podia discutir com o PSG o
primeiro lugar, partimos para a ultima jornada dependendo de outros para nos
qualificarmos porque não conseguimos esse feito de ganhar um jogo que seja ao
Olympiakos.
Ilações :
Ao pensar nestas quatro participações do
Benfica do Jesus na Champions apenas me vem uma palavra à cabeça :
incompetência. O que o Benfica mostrou à Europa não foi nenhuma reafirmação do
poderio e do nome que tanto Jesus como Vieira dizem que foram reconquistados.
Antes pelo contràrio, foi uma enorme incompetência tornada regra e em que
2011/2012 constitui a unica excepção. Tendo em conta os adversàrios encontrados
(nunca dois tubarões num mesmo grupo. Nunca mesmo, para fazermos a comparação,
um Zenith e um Atlético, o que conseguimos é ficar em terceiro. Isto em grande
medida, em termos de resultados, devido a exibições miseraveis fora de portas,
onde apenas conseguimos três vitorias em doze jogos.
Esta incompetência do Jesus pode ser
vista de duas formas. A incompetência tactica, com a teimosia que durou quatro
anos a desaparecer de dar o meio-campo aos nossos adversàrios, mas igualmente a
incompetência nos objectivos traçados. No ano passado, não perder em Glasgow
era um bom resultado tendo em vista a qualificação. O que aconteceu? Não
perdemos num jogo onde 10% mais de vontade e teriamos ganho facilmente. O
Celtic até poderia ter dado 10-0 ao Barcelona!! Se o Benfica tem ganho na
Escocia, como era a sua obrigação, era o Benfica que estaria nos oitavos. Jà
este ano, e antes das duas saidas à Grécia e à Bélgica, Jesus afirma que o importante
não era tanto ganhar em Atenas, mas conseguir pelo menos uma vitoria num dos
dois jogos. Ora essa vitoria foi obtida e mesmo assim a qualificação é quase
impossivel. O que significa isto? Quando são traçados objectivos (não perder em
Glasgow, ganhar pelo menos um jogo fora) e mesmo assim o principal não é obtido
(a qualificação), então quem traça esses objectivos não està a ver là muito bem
a coisa.
Acarditar :
No meio desta incompetência apenas resta
aos benfiquistas acarditar. Isto porque quando o trabalho que realizamos não
tem qualidade, so mesmo uma intervenção divina, um milagre pode fazer com que
obtenhamos aquilo que pretendemos. E a verdade é que o Benfica da Champions por
norma não faz o seu trabalho.
E aqui generalizo o meu comentàrio ao
Benfica do Jesus, a este Benfica onde a palavra de ordem é o "Eu
acredito". Meus caros, quando pensamos que os resultados aparecem não
graças ao trabalho que realizamos mas graças a milagres, é porque assumimos
indirectamente que, de qualquer das formas, o que quer que façamos não tem
influência no que conseguimos : é assumir que o que queremos não depende das
nossas forças, é-nos superior e por isso a unica coisa que nos resta é esperar
que as coisas nos caiam do céu. Eu não acredito! E se não acredito é porque
tenho a convicção que o Benfica tem a força necessària para obter o que quer
sem que intervenções exteriores venham fazer aquilo que deveria ser o Benfica a
fazer. E a verdade é que o Benfica dos ultimos quatro anos não precisava dessas
forças exteriores, que agora têm que manifestar-se, para conseguir
qualificar-se para os oitavos da Champions. Por um lado sempre tivemos mais que
qualidade suficiente nos diferentes planteis. Por outro lado temos um treinador
que tem qualidade, que não é burro, mas que é teimoso como uma mula e sem
humildade para reconhecer os seus erros.
E não deixa de ser com grande pena que
olho para os que acarditam. Primeiro porque ao acarditarem, e ao contrario do
que julgam, estão a tirar valor ao proprio Benfica. O Benfica não precisa de
acreditar. Precisa, isso sim, de fazer o seu trabalho!!! Por outro lado, sinto
pena das suas intervenções. No ultimo ano, para continuarem a acarditar,
agarraram-se ao empate em Glasgow, terreno onde sempre perdemos e onde até o
grande Barcelona perdeu! Este ano jà estão a agarrar-se à vitoria na Bélgica
num campo onde nunca as equipas portuguesas ganharam. Fazem-me pensar aos
crentes que, na sua ignorância sobre a medicina, vêem as curas como milagres.
Ou seja, agarram-se a estas coisas para demonstrar que a sua crença é legitima.
Não! Ganhar na Bélgica contra este Anderlecth (sim, porque estamos a falar do
Anderlecth dos anos 2010 e não no da década de setenta ou oitenta) não é nenhum
milagre e não é o resultado do acarditar : é pura e simplesmente a obrigação
para um clube com a qualidade do Benfica contra um clube com a qualidade do
Anderlecth.
O Benfica està ainda longe de se afirmar
na Europa, muito longe. E a verdade é que não é uma final da Liga Europa
perdida que muda este facto. O Benfica do Jesus passou da terceira divisão
europeia para a segunda divisão europeia, mas continua, ainda, neste nivel. E o
que é frustrante é saber que o Benfica tem tido nos ultimos anos tudo para
realmente afirmar-se como um clube incontornavel no panorama europeu.