Clique interior

Quando estava ver o jogo Benfica – Barcelona desta época aconteceu-me algo que já há muito não me acontecia: passei o jogo todo a torcer pelo Barça. 

É que, já desde os tempos de Deco e Ronaldinho, comecei a não gostar muito “daquele” Barça; as célebres eliminatórias com o Chelsea de Mourinho,  a constante protecção que os jogadores do Barça têm dos árbitros e a minha natural inclinação para torcer pelas equipas underdogs, fez-me começar a desejar que o Barça perdesse sempre. E quando Mourinho e Cristiano Ronaldo chegaram ao Real Madrid, esse desejo ainda cresceu mais.

Mas esse desejo de ver o Barcelona ser derrotado só tem equivalente – e é mesmo ultrapassado, claro - com o desejo de ver o meu maior rival de sempre, o Benfica, perder todos os jogos em que participa, nem que seja ao berlinde.

Foi por isso que achei estranha a sensação de estar a torcer pelo Barça contra o Benfica, pois era algo que já não acontecia há muito tempo - deste que, quando era puto, sabia que o Barça de Cruyff era o underdog e, pelo contrário, o Real Madrid é que era o “beneficiado”.

Hoje, pelas 18h e tal, quando vi o vídeo de Liedson  a chegar ao Porto, subitamente, senti um clique interior, uma alteração de sentimento que não é possível de controlar racionalmente, enfim, algo de inexplicável.

Assim, posso dizer que, após anos e anos a desejar a derrota do Benfica - particularmente a derrota do Benfica no final do campeonato - posso afirmar que, do fundo do meu âmago, desejo que os lampiões sejam os campeões esta época.

A possibilidade de ver Moutinho, Varela, Izmailov e Liedson juntos, num autocarro a beber champanhe, em plena Av. dos Aliados, é uma visão demasiado traumática. Mais ainda do que ver milhares de adeptos benfiquistas a comemorar um título junto de estátua que tem um leão.