Entrevista de Pablo Aimar a uma rádio argentina

Entrevista tirada daqui



Aproveito para saudar Pablito Aimar, que anda pela Argentina, depois do seu périplo por terras estranhas.
Pablito, que prazer. Boa tarde.

Igualmente. Boa tarde.

Como estás? Bem?

Sim, muito bem, obrigado.

Mas não te tens arreliado com nenhuma lesão?

Sim, claro. Esse é um dos motivos para eu estar na Argentina, para uma pequena intervenção cirúrgica.

Como resumes a tua passagem por um lugar, que, como tu dizias, soava um pouco estranho, e não percebias as notícias. Conta-nos um pouco como foi a tua vida por lá, como correu.

Foi uma experiência de vida agradável, pois era um lugar muito estranho. Eu queria, eu e a família, viver num lugar diferente, e ver as coisas que te levam aqueles lugares, o clima, o motivo económico também, mas o problema físico não foi bom, é um futebol muito diferente, quase sem exigência, e bem, durou o que durou, e serviu para me aperceber que tenho vontade de jogar mais, enquanto der o corpo, um futebol mais eficiente.

Fiquei com a sensação, conhecendo-te, que te faltou um pouco de adrenalina, pois os jogos pareciam treinos, sem pessoas a ver. Não é o mesmo que entrar no estádio do Benfica, do Valencia ou do River.

Sim, eu tenho claro que é a etapa final da minha carreira, e não queria deixar o futebol de alta competição com o ultimo ano, que tive problemas em que não podia jogar, por isso fui para um lugar estranho, onde imaginei que a menor exigência me faria melhor, mas agora estou num momento que tenho a certeza que vou continuar a jogar. Vamos ver como saio desta operação para perceber a que nível vou continuar a jogar.

Quanto tempo parado?

Um par de meses.

Recebeste ofertas?

Sim, mas o tema é sempre o mesmo. Não gosto de jogar em lugares onde não me vejo à altura. Quero  ver como saio disto, e quero estar bem fisicamente, pois na cabeça tenho muita vontade, mas tenho exemplo de jogadores, em final de carreira, que não se davam conta que deveriam jogar em outros níveis. Mas vou ver como me recupero e decidir quanto às ofertas que tenho, vou analisar e escolher. Eu, às vezes, falo com os meus amigos que não quero seguir carreira a passar a bola para os lados, pois gosto da minha maneira, ir para cima, e no ultimo ano, percebi que por causa deste problema que estou a tentar solucionar agora, não pude fazê-lo e não gosto de jogar e tentar acomodar-me com aquilo que dizem ser “Experiência”. Eu prefiro a juventude à experiência (risos). Eu acho que vou ficar bem, e que vendo o resultado da operação, vou escolher bem onde terminarei a minha carreira.

Com  problemas físico, é complicado jogares na liga argentina.

Isso acontece  em todo em lado. Não me refiro tanto pela qualidade, pois há muita intensidade em quase todas as ligas, e na Argentina vê-se intensidade e muito poder físico, mas também jogadores que tentam pensar bem o jogo, usam a cabeça - o Ledesma no River, é um jogador enorme. Qualquer um se pode adaptar a futebol físico, e na Europa é muito físico, mas a equipa que tenta jogar, que vai pelo campo fora, continua a fazer diferença, na minha opinião.

Pergunto-te por Eusébio. Morreu há pouco tempo, vias como referência do Benfica?

Sim, ia muito aos jogos, ia ao balneário, era enorme para o povo do Benfica, que lhe fez uma estátua, e está lá , no novo estádio da luz, na porta do estádio, a estátua do Eusébio. Alguém que foi muito, muito grande, para o Benfica e para Portugal.

E a maldição do Benfica?

Eu acho que neste último ano, o Benfica voltou-se a colocar no sítio onde merece estar. Um clube tão grande.  Há 6 anos, quando aterrei em Lisboa, para ver o que era o Benfica, decidi escolher aquele clube. Eu sabia que, fora de Portugal, não se dava o devido valor ao Benfica, mas estes últimos anos serviram para o reconhecimento da equipa. No outro dia li que o treinador do Benfica disse que o Real Madrid e o Barcelona já tinham treinador, e que então ficava no Benfica, colocando o clube precisamente a seguir a essas duas equipas. Eu também acho que é assim. Não deverias poder sair para qualquer lugar depois de treinares uma equipa como o Benfica. A equipa vai chegando ao patamar onde tem de estar, e apesar de ter perdido as duas finais europeias, se continuar com este trabalho, onde o presidente é super capaz a fazer maravilhas no clube, essa maldição terminará muito em breve.

Pablo, pergunto-te por Garay. Como o vês.

O futebol não tem verdade e aceita-se as opiniões, mas a mim chama-me a atenção quando criticam a defesa da Argentina, dizem que não tem centrais. Eu não sei. Não vêm Garay? A equipa que ganhou a Europa League tem dois centrais argentinos. Venceram um torneio prestigiante que não é fácil de ganhar. Eu acho que se tira muito facilmente o valor aos jogadores. Claro que depois de Ayala é difiicl dizer que temos centrais, mas temos. Há centrais argentinos muito bons. E Garay é um central bárbaro.

Dizem que temos muito ataque do Macherano para cima, e que se deveria balancear mais a equipa com jogadores mais defensivos.

Mas fazias o quê? Substituías os 4, para que haja menos ataque? São 4 fenómenos, e outros que vão também. E depois, claro, uma equipa que ataca com tanta gente, é provável que não defenda. Como fazer? Não creio que a selecção tenha de se preocupar com a defesa, mas claro, tem fenómenos lá na frente. No outro dia, surpreendi-me, pois parece que que só agora se andam a aperceber que Di Maria é um fenómeno. É difícil porque não se dá muito valor a jogadores como Garay, um dos melhores centrais do mundo.

E como vês Messi? É preocupante?

Bem, habituou o mundo a fazer de 60 para cima, e este ano marcou 40. São 40 golos. (risos) Eu vejo-o como sempre, o melhor do mundo há 5,6 anos para cá, e tem de o voltar a provar. Mas o Cristiano Ronaldo é uma coisa de loucos. No outro dia, lesionado, jogou 120 minutos, e aos 110 minutos veio recuperar uma bola à lateral esquerda, quando estava 1-1. Uma vontade de ganhar. Mas Messi é o melhor do mundo, e, na minha opinião, para discutir o título de melhor de sempre, falta-lhe ganhar um mundial, e desejo de coração que ganhe

No mundial, há algo que se valha mais que sorte? O que precisamos para encontrar o Brasil de igual para igual?

Acho que no futebol actual, que parece-se com o Basket, com jogadas cada vez mais estudadas e preparadas, acho que a diferença está na convicção e motivação que, por exemplo, teve este ano o Atl Madrid. É um exemplo. Jogava com a ideia do seu treinador, e uma equipa que tem uma ideia, e onde todos jogam com essa ideia, seja ela lutar pela bola,  pressão, ou possessão, como no exemplo do Barcelona nos últimos anos, ou da selecção espanhola. A equipa que está convencida que as ideias do treinador estão certas, fica acima das que têm as individualidades. Mas, no nosso caso, em termos de individualidades, a melhor está na Argentina. Acho que se a Argentina conseguir reproduzir a ideia do treinador no campo, pode ganhar o mundial.

Surpreende-te a qualidade da Alemanha, em termos técnicos?

Sim, acho que houve uma influencia grande de Guardiola. O Munich agora joga com 65% de posse de bola, e eu gosto disso. Mas o que faz realmente a diferença é que todos levam a cabo a ideia do técnico. Neste caso jogar com bola, e para a vista é mais bonito.

Que te recordas dos balneários da selecção nos momentos de eliminação dos mundiais?

No meu caso, é bastante claro. Passou a voar algo que sempre pensei que iria desfrutar muito mais. Passa muito rápido, até nos mundiais juvenis, e não desfrutas como pensas que vais. Recordo-me da tristeza de não poder seguir nos mundiais onde participei.

Que achas da demissão de Ramon Diaz (técnico do River)?

Surpreende-me, montou uma boa equipa, mas não estou lá, não sei o que o levou a tomar essa decisão, não tenho mais a dizer que isso.

Tens visto jogar Lanzini?

Sim, e tenho gostado.

Imita os teus movimentos…

(risos) Sim, mas ele é mais rápido, até porque agora ando de muletas
.
Concluíndo. Vais seguir carreira, daqui a um par de meses, não sabes se é no River, mas vais continuar.

Sim, eu tenho muita vontade, mas voltamos ao mesmo. O que penso é que tenho de ser eu a deixar de jogar futebol, e não o futebol que me diga para deixar de jogar.Eu quero estar bem, jogue onde jogar, seja ao nível que for, tenho de estar bem.

E se viesse o presidente amanhã e te dissesse: “assinas já pelo River, e vamos vendo.” Que farias?

(risos) Metes-me em cada uma.

Pode acontecer.

Não, estou a recuperar, e estou bem como estou, vamos ver o que acontece depois. Quero estar bem.

A família, vai bem?

Sim, muito bem.

Pablo ,obrigado, abraço aos pais, mulher e filhos.

(transcrição e tradução por Cabelo do Aimar)

10 comentários:

LDP disse...

Grandíssimo.

Obrigado por me "obrigares" a começar o dia lendo isto, Vitto.

Rui Dias disse...

Que um dia volte a casa!!!

POC disse...

Obrigado pela partilha.
Amo Pablo Aimar. É só isto.

formatted error free disse...

Grande, como sempre.

Ricardo Ramos disse...

Dios Pablito

Vitto Vendetta disse...

Foda-se, quem é que começa um sábado às 6 da manhã?

LDP disse...

Eu sei Vitto, eu próprio ás vezes também não acredito...

BENFIQUISTA de Braga disse...

fantástico Vitto...

pablito era the best

LDP disse...

Bom dia, Vitto.

Nené disse...

PABLITO AIMAR!
UM MAGO, UM GÉNIO, UM BENFIQUISTA PARA SEMPRE!
É BONITO SABER QUE CONTINUAS A SER GRANDE!