Sempre tive um problema em dar umas gaitadas no trânsito, pois o barulho incomoda-me, e, embora algumas vezes até adiante, a maior parte das gaitadas não têm sequer razão de ser. Isso já me custou alguns problemas com família, namoradas, amigos, sei lá, toda a gente que preencha o lugar de passageiro em viagens mais longas, acusando-me de não saber usar a gaita (vá, tirem esse sorriso de merda da cara), e de ser um condutor demasiado passivo.
Pois bem, e continuando a falar da minha vida (é sempre bem melhor que falar dos outros), passei uma época inteira a trabalhar aos domingos, sendo que a maior parte das vezes foi em viagens longas entre o litoral norte e trás-os-montes, e apanhei grande parte dos jogos do Benfica na estrada, e, claro, também apanhei os muitos golos marcados, que me levavam a usar a gaita como um doido, sobretudo na A7.
Foi assim que ganhei o gosto pela buzina (se escrevesse gaita soava muito panisgas), e tornou-se um rito quase semanal (era só quando o Benfica jogava ao domingo), preenchendo as minhas viagens, a maior parte das vezes solitárias, a mostrar a gaita a todos que passavam por mim nas horas boas do futebol.
Ao ouvir uma gaita errante, em compassos semelhantes à marcha vitoriosa da Aida, alguns respondiam, os que vinham em sentido contrário. Dos que vinham na minha faixa, só por duas vezes olharam para mim, e nenhum deles devia ser benfiquista, pois um fez-me um piço com o dedo, e outro olhou para mim com cara de Paulo Fonseca, o que deu a entender que deveria ser portista.
Depois, e porque havia jogos ao domingo onde o Benfica não estava presente, comecei a usar a gaita também nos jogos do Porto, sempre que sofriam um golo, aplicando-se o mesmo ao Sporting (se bem que para ser honesto não me recordo de nenhuma vez a ter usado com os leões), e isso foi-me custando mais alguns piços, mas mais buzinadelas por parte dos que vinham em sentido contrário.
Mas o que interessa é que, nesta época, exibi a minha gaita com bastante orgulho, (outra vez esse sorriso de merda?) e, voltei a dar uso à gaita nos festejos do título, mesmo em sítios que só há monte, paralelo e capim seco. E penso que este é o melhor uso que uma gaita de um carro pode ter, celebrar golos do Benfica, ou então, celebrar títulos do Benfica.
Para mim, este é o título da gaita nos golos do Benfica, o título de ouvir o segundo golo contra o Porto a 120Km/h (coff coff) pela voz do Nuno Matos, ou até do golo da segunda jornada contra o Gil pela voz do Paulo Cintrão, enquanto dava mais um minuto de uso à gaita.
Para mim, este é o título mais importante desde que me conheço como Benfiquista, pois toda uma conjuntura foi criada ao longo dos últimos anos para que eu o possa colocar nesse patamar, acima do de 2005, quando tínhamos uma equipa demasiado má para acreditar que se poderia dar bom seguimento, e não espero nada mais do que a conquista da Taça, e uma grande exibição nos dois jogos frente à Juve, que nos permita sonhar.
3 comentários:
Prémio Pulitzer 2014 para a categoria post homo-futebolístico!
Sem dúvida!
Que essa criança que vive dentro de ti dure muitos anos!
E tócágaita!
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