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O comportamento do treinador continuou a ser mal recebido pelos adeptos, conforme a época prosseguia. Souness travava uma luta desesperada contra as barreiras da linguística, e o seu staff não sabia nada sobre a Liga onde trabalhavam. Numa entrevista, o adjunto Phil Boersma não foi capaz de identificar um único jogador que o tivesse impressionado, para além do óbvio Jardel, e pouco depois se soube que o treinador andava em frequentes viagens entre Portugal e o Reino Unido.
No campo, tudo corria mal. Michael Thomas, o homem que selou o título do Arsenal em 89, já tinha passado o seu melhor momento. Os seus gestos lentos e ineficazes levavam às vaias dos adeptos, nas bancadas, de cada vez em que tocava na bola. Apesar de só ter feito cinco jogos pelo Benfica, Thomas meteu-se em arilhos, após um treino, numa luta com Sergei Kandaurov, que resultou na suspensão do salário do ex Arsenalista, e num castigo que acabou por ser revogado pela FIFA, tendo o Benfica que pagar cerca de 900.000€ ao jogador, como indemnização.
Do bizarro ao ridículo, mais uma nova contratação. Steve Harkness, o homem que conseguiu, sabe-se lá como, estar presente em 100 jogos pelo Liverpool, distribuídos por dez anos, estava preparado para iniciar o período continental, cravando nas costas da sua camisola o nome 'Steve'. Infelizmente, 'Steve' não conseguiu muito mais que Thomas, tendo uma aventura europeia com apenas nove jogos.
Por fim, Gary Charles, que tinha recentemente ganho uma Taça da Liga pelo Aston Villa, viu o seu tempo em Lisboa encurtado, devido a uma lesão, mas é agora aceitável considerar que o jogador estaria nas fases iniciais do seu alcoolismo, que o levou a terminar a carreira de forma prematura.
Os resultados não agradavam,e nem a figura de Eusébio ajudava. O maior ícone da história do clube tinha sessões frequentes com os avançados, mas Deane sugeria que ele era mais um mentor para o plantel inteiro.
Animosidade, pressão e irregularidades financeiras escalavam para o topo, e em Abril de 1999, Souness soube que o seu lugar seria de Jupp Heynkes na temporada seguinte. Ele concordou em ver o seu tempo no Benfica acabar, e mal viu o seu 'gang' partir para Inglaterra, o rígido treinador viu o seu reinado acabar, numa humilhante derrota por 3-0 com o Boavista, perdendo o título para o Porto. 80.000 adeptos acenaram lenços brancos nessa noite, de um jeito de gozo, mas também de forma genuína, deliciados por saberem que era o último jogo com ele.
Souness acredita que fez um bom trabalho em Portugal, e que não foi fácil lidar com a situação do clube. Talvez ele tenha razão. 71 jogos como treinador, venceu 57% deles, mas é justo dizer que ele errou redondamente na parte da política de contratações, e isso ajudou a cavar a sua própria sepultura. Não aprender a língua, não prestar atenção às outras equipas e sugerir que os jogadores Latinos não tinham a mentalidade que ele necessitava, também não ajudou muito.
Um ano depois, Souness erguia a Taça da Liga, com o Blackburn, mas nesta história, o único que saiu satisfeito com a experiência foi mesmo Brian Deane, que olha para trás de forma ternurenta.
Custou 1M€, mas só lá esteve um ano, sendo vendido ao Middlesbrough pelo triplo do que tinha custado: "Não tenho arrependimentos sobre esse tempo, nem sequer queria sair, mas a situação financeira do clube forçou a saída.'.
(...)
Em 2001, Azevedo ficou em prisão domiciliária, enquanto era investigado por fraude. Foi normal não pagar os salários e prémios a jogadores durante os três anos em que presidiu o Benfica.
Um total de 14 acções foram movidas contra ele, que incluíam uma acusação de ter desviado 1M€ da venda de Ovchinikov para o Alverca, para pagar um iate. Foi sentenciado a dois anos e meio de prisão, enquanto outros crimes se vinham a descobrir, como o roubo de 1M€ ao clube e lavagens de dinheiro.
Em 2006, após ser libertado, Azevedo mudou-se para Londres, onde dirige uma empresa financeira.
E assim podemos concluir que a situação não foi toda culpa do treinador,ou dos jogadores, foi mais um caso de 'bad timing'. O Benfica ainda se encontra nas sombras do Porto, apesar de conseguir alguns momentos de fama intercalados, e estar bem longe daquela idade das trevas, e as relações Anglo-Lusitanas no campo ainda são muito complicadas, mas será justo dizer que este caso levou a que os jogadores Ingleses não emigrassem em massa.
Se há algo positivo no meio disto, é que temos um brilhante exemplo de comicidade desastrada por parte de um presidente, que viu tudo explodir na sua cara, e em resultado acabou por sofrer mais consequências do que o clube, que se reergue novamente.
Por Steven Green

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