O único problema daquele povo era a própria natureza, que dando-lhes tudo isso, dava-lhes também terríveis tempestades, que derrubavam as suas cabanas, deixando aquela gente ao relento.
Certo dia, o líder da tribo avistou um pobre carpinteiro naufragado numa jangada, e acolheu-o na tribo, dando-lhe do peixe que o mar guardava, e da fruta que a árvore cedia. Nessa noite, enquanto a visita recuperava numa das cabanas do líder, veio um tufão e levou-lhe o teto, deixando o homem desolado com tão miserável dote daquele povo. Então, no dia seguinte, o carpinteiro, homem honesto e de trabalho, disse que faria as melhores cabanas que aquela ilha alguma vez segurara, que alguma vez aquele oceano banhara, ou até que aquele céu veria, e assim foi. Pediu ao líder para ir a outras ilhas remotas buscar matéria prima, e conseguiu fazer cabanas para todos, que resistiram às monções daquele ano.
O carpinteiro foi levado em ombros, assim como o líder daquela tribo, chamando a atenção de tribos de outras ilhas mais poderosas, que começaram a ter interesse em tal carpinteiro, que desafiava os temidos tufões. Entretanto, o carpinteiro ficou na ilha, e, em troca de fazer o trabalho que mais gostava, os ilhéus davam-lhe o melhor sustento, apenas reservado ao líder e a outras figuras distintas da ilha. Mas, um tufão mais forte conseguiu desabar tudo o que o carpinteiro construíra, e a miséria voltou àquele povo.
Mesmo assim, os ilhéus não o abandonaram, embora o próprio carpinteiro, desgostoso com o fracasso daquilo onde deitara tanta paixão, pensou mudar de ilha, mas acabou por ficar, prometendo construir mais resistentes cabanas para que aquele povo vivesse em segurança. Demorou a reconstrução, mais do que o previsto, e outras tempestades vieram, deitando por terra o que se ia construíndo. A pior de todas foi numa altura em que já se celebrava na ilha, faltando dar os últimos retoques no acabamento, e até o líder da tribo esperava, de tesoura na mão, o inaugurar das cabanas que dariam a felicidade ao seu povo, que já o contestava fortemente.
Mas, foi tudo no vento, e os ilhéus, chocados com tamanha destruição, viraram costas ao carpinteiro, não acreditando nos seus dotes, e ignorando a sua presença na ilha. Uns, foram morar para as grutas do interior, outros, dormiam ao relento na praia, e abrigavam-se com palmeiras das chuvas constantes. Os ilhéus acusavam o líder de nada fazer, pois tudo o que recebiam era graça da natureza, a comida do mar e das árvores, a areia para construir, a rocha para trabalhar.
O líder decidiu manter o carpinteiro na ilha, retiraram o melhor material das últimas construções, e foram buscar material caro, dando grandes reservas de peixe para o conseguir. E com isso, a ilha voltou a celebrar, pois as novas cabanas resistiam a quase tudo, levando apenas um reparo aqui e ali. Durante meses, a ilha foi feliz, mas a cobiça de ilhas mais poderosas, e a necessidade de reabastecer o stock de comida que havia sido dada ao longo dos anos, acabou por levar à venda de grande parte das cabanas que o carpinteiro havia construído. Em troca, não havia provisões para conseguir boa madeira, e então, toda a ilha, se voltou para o carpinteiro, que já havia dado provas do tipo de material que precisava para dar segurança à tribo, e que se via agora perante um grande desafio, o de reconstruir as mesmas cabanas com outro tipo de material, porque o líder deu tanto peixe ao longo do seu mandato, que o povo está perto de passar fome, daí não dar para ir ao melhor material.
Enquanto esperam, os ilhéus vão observando, preocupados com algumas cabanas que vão caíndo com ventos que não assustam um caranguejo, e o líder vai aparecendo, de 5 em 5 minutos, no cantinho do ecrã da televisão.
16 comentários:
Vinho e vieira
O problema é que desta vez não se sabe se há madeira em bom estado que chegue...
Um texto sublime ... !!!
Excelente texto, parabéns, só tenho pena do final do texto não coincidir com o que seria a verdadeira ou perfeita moral da historia pois dado que a "madeira" é um recurso renovável nada indica que tenham deixado de existir "árvores" pois o "líder" zelou sempre pelos "recursos e habitantes da ilha".
Um final adequado seria que apesar de "estarem agora habituados aos novos materiais, o carpinteiro pegou na madeira dos destroços e na que descobriu nas ilhas vizinhas e reconstrui novas cabanas e mesmo os habitantes mais desconfiados apesar de mais tarde que os confiantes no líder e no carpinteiro, encontraram abrigo nos seus refugios novinhos em folha".
È por isto que o futebol é o desporto nº1, é uma modalidade de finais abertos com dois tipos de adeptos, os que "vivem nas suas grutas" e os que sabem que por mais "tufões" que venham arranjam sempre maneira de "viver em cabanas" e prezam os "carpinteiros".
Como alguns dizem que o Benfica agora é do LFV ou contra o Vieira, saudações vieiristas!
Magnifico Fernando Tomàs, MAGNIFICO!!
Eu confio no carpinteiro. O chefe da ilha é que já se afogava
Quanto tempo demora uma árvore a crescer para dar madeira daqual se faça uma cabana decente? Ou uma vigazita vá lá... vá nem que seja uma pequena aduela. Ou uma reles talisca.
Quanto tempo?
continua com a ficção de realidades paralelas...
Para uns o "copo" está meio-vazio!
Para outros, meio-cheio!
Ainda há outros que acham que está totalmente vazio ou totalmente cheio (os talibans)!
Está MEIO!
analogia fantastica. excelente escrita criativa.
Como é óbvio, o final desta história ninguém o sabe, mas acho que todos esperamos o mesmo. - cabanas no marquês :D
ja pensaram em contruir com ferro e cimento, ou dar a obra ao Vieira?
Eu já faço a minha parte que é pagar as cotas e ir à Luz quando tenho guito para isso.
O resto têm de ser eles (presidente, treinador, jogadores) a fazer. Só espero que o façam bem, que os adversários não vão dar tantas abébias como no ano passado.
jorge garcia! Mega LOL
Eu ajudo com a instalação eléctrica
Jorge Garcia fez o melhor comentário de todos.
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