Uma das grandes discussões do estudo da comunicação centra-se em duas versões distintas de teóricos que sou obrigado a estudar e que não os gramo nem a tiro. Uma, a de Quételec, diz-nos que o jornal influencia directamente o seu público, ajudando-o a ter opinião com o que é escrito. A outra, de Le Bon, é o oposto, e garante que o público é que faz o o conteúdo do jornal. É óbvio que ambas têm razão, e se soubermos ser polivalentes no raciocínio, compreendemos isso bem.
Após terem feito ontem uma capa diferente onde diziam que os capitães do R.Madrid queriam Mourinho fora do clube no final da época, Florentino Pérez convocou uma conferência de urgência para desmentir essa capa, acusando o jornal de estar a mentir. Hoje, a Marca brinda-nos com esta pérola do jornalismo.
Na minha ignorante opinião (até porque a área que estuda isto foi a única disciplina que chumbei o ano passado), o acelerar da Aldeia Global faz com que anos e anos de combate ao individualismo (causado pela invenção da tipografia, e mais tarde anulado com a introdução dos meios electrónicos) estejam a retroceder a olhos vistos, e esta capa é uma boa prova disso. A Marca chama a si o direito de se individualizar, de, por momentos, esquecer o público e falar para a multidão, apostando numa aproximação similar aos meios dominantes desta nova década (todos os de conteúdo on-line), defendendo-se, com ou sem razão, e, de uma forma ciberanárquica, misturar o que deveria ser o editorial com uma chamada de capa. De facto, o mais usual é vermos estas acções de individualismo serem retratadas com pedidos de desculpa, de esclarecimento, mas nunca vimos isso ter um destaque como este (na capa). Mas a Marca tem razão. A única vez em que é (eticamente? socialmente?) aceitável colocar uma nota de esclarecimento na capa, é quando essa nota vem de alguém importante, e quer esclarecer algo de grande importância, que mereça chamada de capa. Neste caso, a Marca é uma figura activa na polémica, logo terá todo o direito (como Florentino Perez teve ao fazer a conferência) de se defender e esclarecer (alegadamente) o público, mesmo que para isso tenha que contrariar décadas de combate ao individualismo na imprensa.
Aqui, não é o público que faz o jornal, ou o jornal que faz o público. É o jornalismo para multidão. A multidão binária.
Parabéns, Marca, mesmo não acreditando no que dizes, deste mais um passo em relação ao futuro da imprensa escrita.
8 comentários:
Que grande espanholada que alí vai! LOL
Sem divulgarem os remetentes das msg's não sei o que querem provar.
Agora o que parece certo é que existem bocas podres no plantel ou próximos deste, alguns jogadores terem esse sentimento tb não me admira muito. A saída disparatada (de amador mesmo, do 'melhor' gr do mundo) Casillas em que acaba lesionado (karma?) dá a entender que aquela cabecinha não anda muito bem, mas tb o que esperar de um tipo que vota em Sérgio Ramos para melhor jogador(galas para encher chouriços)?
Só não percebo como consideram a Marca pró- Real Madrid. Não fazem outra coisa que não seja destabilizar e criticar o Mourinho.
marca é completamente anti mourinho
7 ou 8 jogadores querem sair se Mourinho ficar. Era o melhor que podia acontecer ao Real se o Florentino percebesse alguma coisa do assunto...
Bom texto, gostei.
o jornalismo em espanha e' tao bom quanto o cafe' deles.
povo mais burrinho e influenciavel pela imprensa... sao tao tapadinhos!
O futebol (o desporto em geral va'... quase tudo pronto!) em Portugal anda pelas ruas da amargura... Agora ate' se discutem capas de jornais espanhois...
Enxerguem-se.. os espanhois estam-se nas tintas para os portugueses e acham nos uns mediocres!
Nao ha jornais em Portugal para comentar? Nao ha campeonato em Portugal?
Caro Vitto,
A meu ver existe um erro na tua análise. Consideras o jornal "Marca" um jornal. Mas este parecendo não o é.
Tem o formato, tem artigos, tem informação, tem notícias, terá algum jornalismo. Mas não é um Jornal, será um tablóide, como em Portugal todos os jornais desportivos o são.
Do Jornal "A Bola" por exemplo, pode dizer-se que já o foi em tempos, mas hoje não é.
Também se pode argumentar que este tipo de tablóides têm algum jornalismo neles, aliás eu poderia facilmente comprová-lo com nomes de jornalistas. eu concordaria com isso. Mas o inverso seria anedótico.
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