Tou de ressaca

Pois é... ontem apanhei a pitosga... a cabra... a acompanhante de luxo... É o que dá matar as saudades do vinho verde da minha terra natal, que já não via há anos, e depois de matar saudades dele, voltar a matar saudades dele outra vez... E outra vez... E outra vez...

Mas, não é isso que aqui me traz. Vou-vos falar de outra pitosga que apanhei, há 8 anos, quando o Benfica de Trapattoni foi campeão. Se bem se recordam, o último jogo foi decisivo, e se perdêssemos no Bessa, o Porto era campeão (caso ganhasse, penso eu, à Académica). Acho que foi uma das últimas vezes em que se viu o verdadeiro espírito desportivo, com o bar onde eu costumava ver os jogos repleto de benfiquistas e portistas a beber durante toda a tarde, aos abraços e a cantar. Um verdadeiro ambiente escocês! Quando começou o jogo, 2 televisões em partes distintas exibiam os jogos, e o "bruááá" era constante, ora de um lado, ora do outro. Um ou outro gajo foram expulsos do bar, por tentar andar à porrada ou por insultar, já não me recordo, sei que eles estavam já perdidinhos de bêbados, e eu... também.

Quando acabou o jogo, que nem as invasões de campo, todos os bares daquela rua, que deveriam ser uns 4 ou 5, completamente apinhados, viram os benfiquistas sair porta fora, sem pagar, dirigindo-se para a rua onde está, gloriosamente, a Casa do Benfica de Famalicão (Abraço para o Zé Manel e para o papagaio que assobia a música do Pinto da Costa). Em pouco mais de 5 minutos, toda a malta que estava a ver o jogo nos cafés da cidade encontrou-se lá, e não tardou em começar a verdadeira loucura, com crowdsurfing, bombas, foguetes, cânticos, malta a vender cerveja na rua, tudo...

Pois bem, nessa altura eu já estava mais para lá do que para cá, e apercebi-me que se tinha formado uma clareira no meio daquela imensidão de gente (entretanto já tinham chegado as pessoas das aldeias e das cidades vizinhas, para marcar presença no santuário Famalicense ao Glorioso), fui lá espreitar e vi que andava alguém com um cachecol do Porto, e o pessoal ao redor fez um círculo, ao gajo do cachecol. Eu, do alto dos meus 1.90m, resolvi perguntar (ok, foi mais tentar perguntar, porque àquela hora já não se percebia grande coisa do que eu dizia) se ele era portista e o que é que andava a fazer ali no meio. De seguida passou-se isto, com ele a perguntar:

- "Tens isqueiro?"
- "TENHO, slb slb slb"
- "Queima"
- "Queimo, slb slb slb"

E queimei... Queimei o cachecol, enquanto ao meu redor, o pessoal ficava louco e começava a cantar "Pinto da Costa, vai para o caralho".

Na altura, senti.me uma rockstar...Não só tinha queimado um cachecol do Porto, como tinha posto centenas de pessoas a mandar o Pinto da Costa para o caralho... Que mais é que um gajo podia querer?

Passado algum tempo, não sei quanto, pois ainda hoje não tenho bem noção das horas a que aquilo aconteceu, fui para casa. Vou dizer que fui de Taxi ou que um amigo me levou, para não ferir susceptibilidades sobre conduzir embriagado.

Quando cheguei a casa, a minha primeira reacção foi ir a um pequeno terreno que temos ao lado de casa, uma espécie de campo de cultivo, e como já deviam ser umas 23h e era de noite, fui a correr para o fundo do campo... vomitar. Vomitei e vomitei, mas sempre (JURO) a cantar o slb slb slb. Os carros que passavam na rua apitavam, os que me viam a vomitar, e eu respondia com um slb slb slb. Eis que, ainda estando eu naquelas figuras, ouço um carro a apitar mais insistentemente, e alguém a dizer alguma coisa pela janela. Eu, de costas para a estrada, levantei os braços e comecei a cantar o "campeões, campeões, nós somos campeões". Até que olhei para trás e vi a minha família toda, dentro da nossa carrinha, a olhar para mim de boca aberta, e o meu pai com ar de quem me ia deixar dormir na casota do cão nessa noite.

No dia seguinte, quando acordei, o meu pai contou-me 2 histórias, à mesa.

1 - No café lá da minha aldeia, os Portistas sabiam da história do cachecol, e andavam atrás de mim para me "acertar o passo".

2 - O cachecol que eu queimei, era de um grande amigo meu, que tinha sido espancado por benfiquistas quando tentou sair daquela rua apinhada, para ir embora.

Moral da história:

Se beber, não queime cachecóis.

Agora vou ali fazer uma canja, tá?

SLB SLB SLB!!!