Síndrome de Rei de Espanha


"Desculpem lá, não pode ser. Eu fico com a sensação de que vocês vêm treinar para depois irem à inauguração de qualquer coisa, parece que o treino é onde vocês vêm passar um bocado, só para preparar a noite e ver onde é que se vai, à inauguração da discoteca tal, à festa do bar tal, à passagem de modelos tal... Não, não pode ser! Porque as sobremesas nesses sítios são ácidas. Vocês não podem passar por um clube desta dimensão e não ficarem na história do Sporting. Vocês têm de ganhar coisas."

Dixit Octávio Machado, em 1998 ou isso, quando era treinador do Sporting. Mas podia ser bem o Paulo Bento a tê-lo dito, ou o Carvalhal, ou o Sá Pinto. E tem sido sido isto os últimos 15 anos do Sporting. Excelentes jogadores no papel e nos jornais, uma miséria dentro de campo.

O Sporting não é um clube profissional de futebol. É uma feira de vaidades. De jogadores e dirigentes. O Sporting sofre daquilo a que eu vou começar a denominar “síndrome de Rei de Espanha”.

No ano passado ficou célebre uma viagem do actual Rei de Espanha ao Botswana ou uma cena assim (não me apetece googlar), onde foi fazer um “safari” e onde pousou, orgulhoso e pleno de soberba, para a fotografia defronte de um elefante morto momentos antes por um dos caçadores da comitiva.

Prá próximo vou matar um leão

É verdade: em pleno século vinte e um, numa era em que o gelo da Gronelândia derrete quase todo no verão, na época dos Ipods e de sexo à distância de um clique, ainda há tipos no mundo que acham bestial tirarem fotos à frente de um animal em vias de extinção que acabaram de matar.

O Sporting, como clube de futebol profissional, é um clube em vias de extinção. E tem-no sido nestes últimos 15, 20 anos. Mas em vez de os sportinguistas se reunirem TODOS e unirem esforços de modo a poderem salvar o leão e restituírem-no ao lugar a que pertence – o rei da selva – temos assistido o oposto.

Três ou quatro claques (separadas umas das outras, politica e fisicamente), Conselhos Leoninos, Administrações de SADs e de clubes, Assembleias gerais de clube e SADs, administração em Alvalade e futebol em Alcochete, Hóquei em São João da Talha, Futsal em Loures, andebol não sei onde, equipa B em Rio Maior papagaios por tudo o que é televisões, jornais e rádios, enfim, uma panóplia de “sportinguismo” para dar e vender. Tudo a defender a SUA ideia de Sporting e nunca defendendo o verdadeiro Sporting Clube de Portugal.

A ambição dos últimos presidentes do Sporting não tem sido retirar o Sporting do abismo da extinção; o objectivo dos últimos presidentes do Sporting não tem sido nada mais do que tirar uma fotografia junto ao leão, ainda que moribundo, apenas para, em momentos de vaidade e ostentação perante os seus pares, poderem dizer, com orgulho, que já foram presidentes do Sporting.

Mesmo que se arrisquem a ouvir, daqui a uns tempos, o neto perguntar “Avô, mas qual Sporting?”

Um clube que queira, VERDADEIRAMENTE, ser profissional e vencedor, tem de o demonstrar em todos e quaisquer pormenores. Um exemplo disso é o palco onde, semana sim, semana não, a equipa de profissionais tem de trabalhar, ou seja, o relvado. O Paulo Bento esteve quatro épocas no Sporting e apenas algumas semanas antes de ter saído de Alvalade, é que eu o ouvi a referir-se ao (permanente) mau estado do relvado do estádio do Sporting. E mesmo assim não foi contundente. (“Eu não sou jardineiro” – lembram-se?)

Vítor Pereira está no Porto há uma época e tal como treinador principal e, poucos meses após um concerto de Coldplay (Maio) que deixou o relvado do Dragão com alguns problemas, Vítor Pereira não teve pejo em referir-se ao assunto e apontou, publicamente, os defeitos do relvado.

Eu não tenho dúvidas: o relvado do Dragão, que tem problemas desde Maio de 2012, será mais rapidamente reparado do que o relvado de Alvalade, que tem problemas desde 2006!


Tinha tantos outros defeitos a apontar ao modo como o futebol profissional do Sporting (não) é gerido mas fico por aqui e prá próxima escreverei sobre o mandato do actual presidente do Sporting. 

Digo apenas que Godinho Lopes é um génio. E não me estou a rir.

7 comentários:

POC disse...

É bem visto Captomente.

Merecem mais, tal como nós. Os outros continuam a rir e a somar títulos.

lawrence disse...

O ser humano é assim!
Pegando na política, os partidos e os políticos só são bons quando estão na oposição!
Discordam de tudo e tem soluções para tudo!
Quando calçam, é a desgraça que vemos!!
E quanto mais imcompetentes, mais barulho fazem!

Vitto Vendetta disse...

Tás muito forte!

Jahwork disse...

Belo post.

Parágrafo final enigmático mas que subscrevo, até à data.

À margem; o relvado, infelizmente não tem solução face à estrutura/envolvente solidamente implantada do estádio; patranhas do Taveira que não tem solução...natural.

DeVante disse...

O Bruno César é uma merda e acho que contou menos dez anos. Fodasse, 24 anos? Só? Devem estar a gozar comigo.
O Ola John é jogador, e gostava de ouvir a malta que o classificou de flop antes dele ter calçado. A eles mando. um beijinho

Mg disse...

Sou Benfiquista, mas há que admitir: sendo jogado um jogo limpo, os adversários querem-se fortes.
Dá mais pica e as vitórias sabem a isso. Vitórias.
Em caso de derrota, fica a certeza que há que fazer mais e melhor para a próxima.
Passeios na praia não sabem a nada. Quer-se competição. À séria.
Haja futebol.
No entanto, e como esta época está quase jogada para os lados de Alvalade, não fico triste se, no final do campeonato, ficarem apenas um ponto acima da linha de àgua. :)

David Duarte disse...

Captomente, o paragrafo que começa assim "três ou quatro claques" deveria ser imprimido e colocado à entrada de Alvalade para que os sportinguistas tenham consciência do estado em que o clube está e da urgência em que se encontra.