Eu, Cláudio

Há p’raí um mês e tal, quando se começou a falar seriamente em novas eleições do Sporting e depois de ter lido um post ou tweet relacionado com o assunto, fui “comprar” a aclamada série da BBC “I, Claudius”, produzida nos finais dos 70, e que retrata em 13 episódios as incidências dos primeiros Imperadores Romanos da dinastia Júlio-Claudiana. 

Porquê? Porque, que melhor exemplo de traição, corrupção e luta pelo poder, do que Nero, Calígula ou Tibério, é que me poderiam dar para poder entender melhor o Sporting dos últimos 20 anos? 

As comparações são brutais. Se no Sporting temos o Ricciardi nos bastidores a escolher sucessores da dinastia “Roquette”, então na série (e na História) temos a “velha” Lívia que, assim que casou com Augusto, o então Imperador Romano, congeminou mortes e traições – envenenou Marcelo, sobrinho de Augusto; Druso, seu próprio filho e envenenou também o marido, Augusto – de modo a que o seu filho, Tibério, se tornasse Imperador e mantivesse Roma sob o jugo dos Júlio-Claudianos, mantendo o poder e os correspondentes vícios instalados, evitando assim o surgimento da “República” - como queriam os senadores romanos-, sempre com o beneplácito e a segurança providenciada pela Guarda Pretoriana (Sim, as comparações com Juventude Leonina são inevitáveis), que apenas tinha razão de existir se o Imperador também existisse.

Tanta consanguinidade só podia dar merda.

Bom, depois surgem Calígula (um “tirano demente” e que “empreendeu um conjunto de reformas (…) que acabaram por esvaziar o tesouro – Alô, Bettencourt?), e Cláudio (defensor da restauração da República, era um tipo coxo e que gaguejava, mas que foi o único que conseguiu equilibrar as contas do Império e ainda lhe juntou a conquista da Britânia – Dias da Cunha anyone?) e após a morte deste, surge como seu sucessor, Nero. A série acaba precisamente aqui, com a morte de Cláudio e com Nero a tornar-se o próximo imperador de Roma e, com o desaparecimento deste, desaparece também a dinastia Júlio-Claudiana.

A dinastia Roquette está no fim da linhagem - já queimaram empresários, banqueiros e engenheiros – e usaram agora o último trunfo tirado da manga de Ricciardi: um sobrinho-neto do maior goleador português e do Sporting, um tipo que sabe, realmente, o que é o futebol português. Sim, não duvido que José Couceiro saiba todos os podres, manias e virtudes do futebol cá do burgo – afinal, foi contratado por Pinto da Costa e conviveu de perto com Luís Filipe Vieira - mas será que isso chega para reerguer o Sporting?

Do outro lado, temos o regresso à “República”, à sabedoria dos “senadores”, do poder das bases, com Bruno de Carvalho a encabeçar um movimento que engloba desde a Legião Romana (Torcida Verde e DUXXI) até a figuras carismáticas da “República” Sportinguista (Augusto Inácio, A mulher do leão às costas, Carlos Lopes, Fernando Mendes, Bassone Bastos, Vitor Espadinha, etc), e que - sejam já após estas eleições, sejam noutras posteriores - serão sempre o futuro governativo do Sporting. (A não ser que Couceiro operasse um milagre!)

Carlos Lopes, Vitor Espadinha e a mulher do leão às costas. Foda-se, já ganhou!

E para que não hajam dúvidas, eu quero Bruno de Carvalho como próximo presidente do Sporting e, a não ser que o desespero da linhagem seja assim tanto como Marinho Neves anda a dizer, creio que o será já em Março. Estou farto de croquettes.

Agora, o José Couceiro, caso ganhe, será sempre o Nero do Sporting, o último da linhagem. Importa saber é, se pelo meio, se queimará algo mais em Alvalade do que apenas um célebre livro branco que ensombra o passado e futuro daqueles que reinaram no Sporting nestes últimos 20 anos.