Lima Unchained

Muita tinta tem corrido nos últimos dias em relação ao novo filme do Tarantino, o Django Unchained, que, na minha opinião, está um grande filme, a consagrar Christoph Waltz como um dos melhores no activo. Mas poucos sabem, apesar das referências no filme, que esta é uma adaptação de um filme de 1966 chamado... Django. Nesse filme, um solitário vagabundo, movido apenas pela vingança, arrasta consigo, durante toda a película, um caixão. Django é de poucas (ou nenhumas) falas, raramente a sua expressão muda e os gestos 'humanistas' são parcos, mas é um dos melhores atiradores do velho Oeste, nunca dispensando a sua metralhadora (guardada no caixão), e combatendo vitoriosamente durante todos os 90 minutos de filme.

Lima também acarta consigo um caixão, bem pesado, com injustiças e sofrimento que poucos jogadores aguentariam. Poucos sabem, mas Lima chegou a jogar no Santos, por empréstimo, quando tinha 24 anos, e estreou-se nos oitavos-de-final da Libertadores com um golão. Mas o semblante pesado de Lima, movido sabe-se lá porquê, não convenceu o treinador, e esse foi o primeiro e último jogo que haveria de disputar pelo emblema Paulista. Já não havia lugar para ele no Brasil, que não nas ligas inferiores, mas Lima tinha algo que o movia, uma 'vendetta' contra quem não via o que lá estava, e partiu de malas e bagagens para a Europa, onde, por entre muitas recusas, poisou no Belenenses.

A partir daí, já todos sabemos a sua história, com saraivadas de metralhadora ao serviço do Braga, continuadas agora, numa versão Tarantinesca, no Benfica, onde monta o seu cavalo, pronto para matar, e que prazer essas mortes lhe dão, como combustível de vingança, e todos olham (especialmente Portistas e Sportinguistas) esperando uma queda, porque Lima não deveria estar no cavalo, mas sim a penar no banco ou na bancada. Não censuro os rivais, o Benfica tem uma longa história de Djangos mal sucedidos, mas este é o verdadeiro, o original, aquele que arrastou o seu caixão durante anos, para finalmente poder andar de metralhadora na mão, trucidando tudo o que é adversário, seja com a ajuda do Matador Cardozo ou não, e do alto do seu cavalo, todos o olham com admiração, e que belo que ele fica quando dispara lá do alto, sem pensar, sem falar.

Lima não sorri quando não quer. Lima não fala quando não quer. Lima está lá para executar, com todo o prazer do mundo, alimentando a 'vendetta' com as suas próprias 'mortes', mas Lima, como Django, conhece o outro lado da batalha, e sabe que a lealdade é algo que nem a maior sede de vingança apaga, por isso Lima foi igual a si próprio quando 'executou' Beto, sem sorrir, sem falar, sem festejar. Lima sabe por onde andou com o seu caixão, e sabe quem lhe deu abrigo em noites de tempestade, mas Lima irá sempre matar, mesmo quando isso não lhe dá prazer.

Obrigado, guerreiro.