Bernardo Silva e o esquema de Jesus

Ainda o B. Silva (descansem, da minha parte o último post sobre a sua saída).

Para além do argumento financeiro apresentado para justificar a sua venda (argumento mais do que discutivel), existe o argumento desportivo : o do B. Silva não caber no esquema do Jesus. Este argumento é interessante em vários aspectos :


1. Ele parte do principio que Jesus vai continuar no Benfica, o que significaria a sua sétima época. Penso que a sua continuidade está contudo condicionada pela conquista do Bi, algo que, estando longe de estar assegurado, vai pelo bom caminho. Não me importaria de continuar com Jesus mesmo se não vejo nenhuma catastrofe num novo treinador. Não é necessariamente o treinador que pretendo, mas ando com a sensação que o próximo, näo sei quando, será o Leonardo Jardim, seguindo assim a recente tradição inaugurada por Jesus de sportinguistas campeões pelo Benfica... bom, pelo menos alguns ficam a conhecer esse sabor da vitória. Contudo, se Jesus continuar e formos novamente eliminados da Champions na fase de grupos, parto o que resta da mesa que sofreu e muito quando o Ivanovic marcou aquele golo em Amsterdão.

2. O argumento desportivo é igualmente interessante noutra vertente. De facto, o meio-campo desprotegido do esquema de Jesus exige muito trabalho defensivo não apenas a quem o ocupa mais igualmente aos avançados. O grande sucesso do Benfica do ano passado deveu-se em muito a Rodrigo e a Lima em apoio constante, pela pressão intensa que faziam, aos dois elementos do meio-campo. Ora, a verdade é que B. Silva não é jogador para isso. Poderia tornar-se, tal como o Pizzi - com boas indicações (está efectivamente a evoluir muito depressa). Contudo, colocar o B. Silva, a criatividade e técnica e inteligência e elegância do B. Silva a fazer esse trabalho é perder o que faz dele um futuro grande jogador. Para mostrar a sua qualidade, o B. Silva não pode estar limitado por tais funções e quem tem acompanhado o Mónaco compreende facilmente isto.

3. E aqui chego ao meu último ponto. Em que ano o Benfica apresentou o seu melhor futebol, o futebol mais espectacular, o "rolo compressor"? Precisamente o primeiro ano de Jesus, o ano de D10S, cujo trabalho defensivo, não sendo inexistente, era secundário. Certo, pela entrega que tinha ao jogo, Aimar participava no processo defensivo, mas a sua influência era residual. B. Silva poderia assim muito bem caber num sistema que já foi o de Jorge Jesus se Jorge Jesus estivesse disposto a adaptar o seu sistema ao jogador. Ora, Jorge Jesus evoluiu em 6 anos, consolidou o seu sistema de tal forma que são os jogadores que se adaptam ao pensamento de Jesus e não Jesus que se adapta aos jogadores que tem. Se um jogador não pode adaptar-se, então, por muita qualidade que tenha e por muito que represente um benfiquismo de outros tempos, vai embora. E isto para o bem da estabilidade de performance do Benfica, mas também para o próprio jogador.


E, contudo, mantém-se a enorme desilusão de não tê-lo visto a entrar no relvado da Catedral com a camisola gloriosa vestida. Fica a certeza que vamos vê-lo muitas vezes nos próximos anos com a camisola vestida ao nosso lado nas bancadas, como um de nós que ele é.

6 comentários:

abidos disse...

O Aimar a '8' resultou, enquanto o Ramires jogava a falso extremo direito, era o Etíope que 'tapava' as costas do Aimar, algo que com o Salvio ou o Ola John é impossível...

fm.carv disse...

A continuidade de Jesus nunca vai depender de ele ganhar este ou aquele título tal como ja foi provado das várias vezes que renovou algumas delas sem título nenhum. Fico confuso de várias pessoas

fm.carv disse...

....continuarem a dizer esta falácia

David Duarte disse...

Abidos, de facto o Ramirez libertava não apenas o Aimar mas também toda a linha avançada. Existem poucos jogadores cujas caracteristicas permitem tal liberdade aos outros. Sem Ramirez, Jorge Jesus teve de repensar o seu sistema que, hoje, 5 anos depois, está mais que automatizado.

Fm.carv, não é porque o sol nasceu todos os dias até hoje que amanhã voltará a nascer. Um bom principio que o caro Hume nos deixou para combater o dogmatismo. Falácia é fazer do hábito uma verdade.

Benfiquista Primário disse...

Excelente post e pertinente comentário sobre Ramires. A prová-la (à pertinência) está o facto de Jesus ter adiantado Aimar para segundo avançado (o tal 9 e 1/2, como ele diz) quando perdeu Ramires.

Enquanto tivermos extremos puros como Salvio, Gaitán e Ola John, na minha opinião não podemos ter um 10 puro e manter os dois avançados...

Quanto ao próximo treinador, cheira-me mais a Marco Silva que a Leonardo Jardim...já o dizia antes de surgir a teoria de conspiração do comediante involuntário José Eduardo (in case someone is wondering :D). Acho que o Jardim é um treinador demasiado defensivo e medricas, além de ter um sotaque muito irritante.

Mas o que eu gostava mesmo era que o Jesus fosse o Ferguson do Benfica...

Bruno Pereira disse...

Bernardo Silva cabia perfeitamente no esquema tático de JJ. Mas a 9,5 (mais aqui: http://orgulhosamentelampiao.blogspot.com.es/2015/01/bernardo-silva.html?_sm_au_=itFVbWTr1D6S1WSQ).
Acho a venda um tremendo erro e que JJ infelizmente já não irá sofrer por isso pois para o ano já não interessa.

Abraço!