Cabelo Report - Ex-jogadores dão bons treinadores?

No Cabelo Report de hoje, vamos falar da passagem que os ex-craques do mundo do futebol enfrentam quando querem ser treinadores de sucesso, dos casos bem sucedidos e daqueles que não tiveram futuro. Vamos dar ainda a conhecer os potenciais futuros mestres do banco, que calçaram chuteiras ao mais alto nível.

Não é fácil de listar os melhores jogadores do mundo, mas numa impressão rápida, podemos falar em Maradona, Eusébio, Pelé, Beckenbauer e Cruyff.
Pelé e Eusébio nunca se aventuraram com um bloco de notas, e decidiram continuar a sua vida como embaixadores do futebol. Beckenbauer treinou o Bayern Munich durante poucos anos, mas logo percebeu que estaria melhor numa posição de general. Cruyff foi o mais bem-sucedido como treinador, apesar de só o ter sido durante uma década, ganhando alguns títulos com o Ajax e batendo recordes com o Barcelona. O único que ainda pode surpreender é mesmo Maradona, que, ao contrário de Franz e Johan, não teve vida fácil após abandonar a carreira de futebolista, tendo que treinar equipas secundárias para mostrar o seu valor, quase 10 anos depois, a treinar a selecção Argentina de 2010, a equipa goleadora que acabaria por sair nos quartos-de-final, vergada por uma super Alemanha. Depois disso Diego tentou a sorte num clube do Qatar, mas não obteve resultados satisfatórios, estando agora no desemprego. 

José Mourinho, um treinador que nunca foi bom de bola, nunca escondeu a admiração pelo Barcelona treinado por Cruyff, mas foi bastante ácido quando acusou o holandês de não ter mostrado ser um dos melhores treinadores, por ter escolhido abandonar a carreira para se dedicar, segundo Mourinho, ao Golfe e a dizer mal dos outros treinadores. De facto, Cruyff podia hoje ser o melhor treinador do mundo, mas preferiu deixar a sua breve marca na memória de quem viveu nos anos 80, para se dedicar a ser Barcelonista a tempo inteiro. 


Se analisarmos jogadores que penduraram as chuteiras nos finais de 90, podemos concluir que muitos ainda estão à espera de um convite "mágico", para treinarem uma grande equipa, como o caso de Batistuta, Weah, Schmeichel, Okocha, Bebeto ou Roberto Baggio, todos jogadores com curso profissional de treinador. Por outro lado, há também aqueles que resolveram colocar mãos à obra, iniciando por baixo uma carreira que esperam ser grandiosa. Alguns tiveram sucesso. 

Didier Deshamps, acabado de pendurar as chuteiras após a vitória no Euro2000, viu fechadas as portas dos seus dois clubes de sempre, Juventus e Marselha, encontrando abrigo num Mónaco fragilizado. Conseguiu recuperar o clube, levando-o à final da Champions em 2004, perdida para Mourinho. Em 2006, conseguiu finalmente treinar a Juventus, com o pequeno pormenor de esta ter sido relegada para a Série B Italiana. Conseguiu a promoção, mas abandonou para treinar, com bastante sucesso, o Marselha, estando agora à frente da Selecção Francesa. O seu compatriota Laurent Blanc tem um percurso parecido com o seu. 


No lado inverso da medalha, temos Jurgen Klinsmann. O seu primeiro trabalho como treinador foi mesmo a selecção Germánica, no Euro2004, levando a um dos piores Europeus de sempre, por parte dos Bávaros. Nem os bons resultados no Mundial seguinte safaram o ex-matador, acabando por se demitir. Seguiu-se o seu clube do coração, Bayern Munich, onde não chegou a completar a época, sendo despedido. Actualmente treina a selecção dos EUA, muito graças ao que fez enquanto jogador, e parece cada vez mais afastado de uma boa carreira a alto nível. 

Conseguimos perceber que poucos são aqueles que conseguem sair da função de grande jogador, para ser um grande treinador, especialmente quando lançados logo às grandes feras Europeias. Existem centenas de exemplos de como deve ser estruturada a entrada de um treinador num grande clube, mas poucas como os casos de Pep Guardiola, Paulo Bento, Di Matteo ou António Conte. Jogadores que nos encantaram nos anos 90, estão (ou no caso de Pep, estiveram) à frente das melhores equipas do mundo, mas não sem antes terem praticado a treinar os escalões de formação, como adjuntos ou como treinadores de equipas pequenas e destroçadas. É nessa lógica que espreitamos quem é que conseguiu afirmar-se nas principais Ligas Europeias, e quem para lá caminha. 


Na Liga Inglesa, para além do actual campeão europeu Di Matteo, que subiu de divisão dois clubes antes de se tornar treinador adjunto de Villas-Boas, temos apenas mais uma ex-estrela no comando técnico de um grande. Mancini  é, provavelmente, a única excepção a uma regra de ouro em Inglaterra, pois treinou sempre equipas de topo, mas com o inconveniente de ser sistematicamente acusado de não ser um bom treinador e apenas de ter grandes equipas que conseguem os resultados por si mesmas.

Mas vamos lá ver o que andam a fazer os ex-craques neste momento em Inglaterra.


Roberto Martinéz nunca foi um grande craque da Selecção espanhola, mas espalhou o seu talento em Inglaterra nos clubes de meio da tabela, ganhando fama como um dos melhores trincos da liga. Quando deixou de jogar, o espanhol assumiu o comando do Swansea, que o tinha acolhido no final da carreira, construindo bons resultados, acabando por se mudar para o Wigan, outro clube em que jogou. No final da época pasada, uma série de 9 vitórias seguidas, incluíndo Man Utd, Newcastle, Arsenal e Liverpool, garantiram uma das melhores prestações do Wigan na Premier, levando a que vários clubes de topo sondassem o treinador. Roberto recusou um convite público do Liverpool e irá permanecer no pequeno clube, até que se sinta capaz de enfrentar a pressão dos campeões.

Roy Keane teve um percurso inverso. Após ser apontado por Ferguson para ser o sucessor deste no comando dos Red Devils, o Irlandês preferiu não esperar mais tempo e agarrar num histórico Sunderland que procurava o regresso a outros tempos, e à liga principal de Inglaterra. Logo no primeiro ano, Keane subiu a equipa de divisão, mas a luta pela permanência era complicada, e o ex-capitão do Man Utd acabou por se demitir, abrançando o Ipswich Town, para ser despedido no ano seguinte. Está actualmente desempregado.  

Depois de alguns anos como treinador adjunto no Tottenham, Gustavo Poyet, ex estrela do Chelsea é hoje o treinador do Brighton, da Segunda Divisão, e muitos esperam que dê o salto já durante esta época, preenchendo alguma vaga deixada livre num clube mais carismático.
Paul Dickov, uma das maiores figuras de um Man City pobre, entre os anos 90 e 2000, terminou a carreira no Oldham, e após uma passagem pelos escalões de formação, já vai na terceira época como treinador principal.
Di Canio treina o Swindon, após duas décadas como futebolista. Fletcher, de apenas 32 anos, foi um dos mais emblemáticos jogadores da segunda divisão Inglesa, e é hoje treinador do Plymouth. Lee Clark, ex-estrela do Newcastle, batalhou para conseguir sucesso com o Huddersfield, e hoje é um dos treinadores mais cotados em terras britânicas, ao comando do Birmingham. Michael Laudrup, que volta a confirmar a teoria do "início em clubes grandes não dá grande resultado" tenta recuperar a carreira no Swansea, após treinar a selecção Dinamarquesa, o Getafe e o Maiorca, sem grandes resultados. Zola também se perdeu, tendo iniciado logo como treinador do West Ham, após maus resultados foi treinar os escalões juvenis da Itália, para agora comandar o Watford. 

Mas deixemos a conservadora Inglaterra, e vamos ver como se adaptam os craques ao campeonato Espanhol. 



Diego Simeone jogou em alguns dos melhores clubes do mundo, mas quando foi para treinar, teve muito que penar. Hoje é treinador do At. Madrid, e mais uma das promessas apontadas ao olimpo dos treinadores. Antes de estar na capital espanhola, o Argentino treinou o Racing, o Estudiantes, o River Plate, o San Lorenzo e o Catania, sempre com bons resultados, que o ajudaram a chegar ao seu clube de eleição, 6 anos após se retirar dos relvados.
Michel, grande futebolista do Real Madrid, onde fez mais de 400 jogos, começou a treinar a equipa B dos merengues, para ser convidado pelo Getafe. É treinador do Sevilha desde esta época, e promete fazer parte da próxima fornada de grandes treinadores espanhóis. 
Pochettino foi estrela no campeonato espanhol nos anos 90 e 2000. Quando pendurou as chuteiras, assumiu logo o comando do Espanyol, estando nessas funções há 4 anos.
Pellegrino foi estrela do Valência e do Liverpool, durante a década de 2000. Após terminar a carreira no clube Inglês, foi promovido a treinador-adjunto. Foi ajudar Rafa Benitez no Inter, e assumiu este ano o cargo de treinador do Valência, após boas recomendações do staff com quem trabalhou. É ainda uma incógnita, mas teve um progresso interessante, aprendendo em grandes clubes, mas como adjunto.


Nos outros países, temos o exemplo já citado de António Conte, que foi uma grande estrela da Juventus, mas na hora de treinar teve que se contentar com o cargo de adjunto no Siena. Após bons resultados, resolveu partir sozinho à aventura, treinando o Arezzo, o Bari, o Atalanta e o Siena, para finalmente chegar à sua meta inicial, a Juve, onde permanece após 3 temporadas bem sucedidas, sendo apontado como o futuro melhor treinador italiano, isto 7 anos após ter deixado de jogar.
Allegri foi estrela do Perugia, e se é verdade que foi ele que conseguiu trazer estabilidade a um Milan destroçado por castigos e "abandonos", não é menos verdade que teve que penar após se retirar dos relvados em 2003 para chegar a esse estatuto, tendo treinado o Aglionese, o SPAL, o Grossetto, o Sassuolo e o Cagliari, antes de assinar pelo Milan em 2010.
Ciro Ferrara volta a confirmar a teoria, tendo sido lançado às feras como treinador principal da Juventus após terminar a carreira de jogador, hoje arrasta-se num modesto Sampdória, depois de ter treinado os U21 Italianos. Angelo Peruzzi acompanha-o como assistente, sendo provável que se torne também ele treinador principal muito em breve
De destacar ainda dois jogadores, que não sendo de primeira linha, foram muito importantes nos seus clubes e lutam hoje por um lugar ao sol na Serie A. Montella viveu sempre na sombra de Totti, na Roma, e é hoje treinador de uma Fiorentina surpreendente. Stroppa comanda agora o Pescara, depois de uma carreira no Milan e na Udinese, e após 3 anos a treinar os U20 do Milan.
É de destacar, no entanto, o treinador do Inter, Stramacionni, que, seguindo uma linha de Mourinho ou Villas-Boas, nunca foi jogador, mas chegou, ainda com 38 anos, a um grande clube mundial, após ter treinado os escalões júniores da Roma e do próprio Inter.

Em outros campeonatos podemos ver Frank de Boer, que já treina o Ajax há 3 épocas, após ter sido treinador da equipa B e de ser adjunto da Selecção nacional holandesa; Thorsten Fink, que foi treinador assistente do RedBull Salzburg, treinou pequenas equipas alemãs e hoje dirige o Hamburgo, habitual presença nas competições Europeias; Sami Hyypia, que treinou os escalões jovens da Finlândia e foi adjunto da Selecção A, agora comanda o mítico Bayer Leverkusen.

Temos ainda o caso de Preud'Homme, que começou num pequeno clube Belga, foi campeão lá, foi campeão Holandês e agora, talvez por ter jogado numa altura em que não se ganhava muito dinheiro, partiu para o sonho milionário das Arábias, deixando a Europa à sua espera para novas conquistas.

Não podíamos terminar sem falar de 2 grandes ex-jogadores que, à semelhança de Maradona, parecem esperar eternamente para que algo lhes corra bem. Stoichkov e Matthaus. Se o Búlgaro teve oportunidade de treinar a selecção do seu país, sem grandes resultados, para depois tentar a sua sorte no Celta, também sem grandes resultados, e acabar agora num Litex Lovech, o Alemão nem essa chance teve, levando já 7 equipas desconhecidas no seu currículo como treinador.


Numa análise final, podemos concluir que tudo é muito subjectivo, mas a experiência demonstra que para os ex-jogadores poderem atingir o sucesso, é necessário uma grande fase de aprendizagem com os escalões de formação, ou então como adjuntos de grandes treinadores em boas equipas, para depois se lançarem à aventura, em clubes de meio da tabela. Será essa a receita para o sucesso? Terá Figo compreendido isso quando disse que poderia treinar o Sporting num futuro próximo? Será que não vemos Zidane, Rui Costa ou  Ronaldo a treinarem equipas porque não querem passar a vergonha de estarem em equipas que lutam para não descer? Responda-nos o futuro.

22 comentários:

Señor B disse...

Todos eles com apêndices capilares muito fraquinhos. Just saying...

"Grandes cabelos dão grandes treinadores?"
É óbvio que a abordagem deveria ser feita por aqui. :)

Anónimo disse...

Parei de ler na parte em que não incluís o Pablito nos melhores 5 de sempre

Pedro Santos disse...

Não concordo que o Michael Laudrup seja mau treinador (no Getafe até teve algum sucesso) e incluir o Paulo Bento no lote de jogadores/treinadores como Guardiola e Conte é ridículo.

iorda9 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitto Vendetta disse...

Pedro Santos:

- Eu não disse que Laudrup era mau treinador, apenas referi o facto (que é o que estou a analiar no artigo) dele ter começado logo como treinador principal numa equipa boa. Acho-o, e é, um bom treinador. Está agora no Swansea a relançar a carreira, logo tem todo um futuro risonho à sua frente.

- Mais uma vez, eu não disse que o Paulo Bento é um dos melhores treinadores ao nível de Conte ou Guardiola, disse sim que é um dos que treinaram escalões jovens, e estão hoje ao leme de uma das melhores equipas do mundo. Portugal é uma das melhores equipas do mundo, por mais que isso custe a muitos portugueses.

POC disse...

Belo artigo Patrão.

Ser treinador é muito, muito complicado. Com bons ou maus jogadores, é sempre complicado.
Quem tem sucesso, terá por um conjunto de factores, uns que controla, outros nem por isso.

Competência, dedicação, aprendizagem, carácter, sorte, timing, inteligência e etc. não são fáceis de conciliar.

(Actualmente a Selecção tem poucos fora-de-série, ao contrário de há 10 anos atrás. A (com A maiúsculo) Selecção dos tempos modernos é a de 2000, expoente máximo da categoria do jogador português. Agora é Cristiano - em 100 jogos quantos fez bons...50/60? - e pouco mais)

Anónimo disse...

Uma selecção que não conseguiu ganhar ao gabão pode ser considerada uma das melhores do mundo? LOL

Anónimo disse...

A selecção pra ser alguma coisa de jeito precisa de ter um guarda-redes em condições, sim o patricio evolui um bocadinho, mas continua a ser o mesmo fragueiro, ou seja, continua a ser o franguício, precisa também de um central em condições para jogar ao lado do pepe, precisa de um lateral direito, o que aconteceu ao bosingwa?, precisa de um trinco de jeito e de um 10 de classe, precisa também, claro, de um ponta de lança digno desse nome.

Depois disto, pode-se dizer que a selecção seria das melhores do mundo, capaz de vencer qualquer adversário e qualquer competição.



P.s: Talvez precise também de um selecionador sério, profissional e com fome de títulos.

Anónimo disse...

Onde anda o Rui Bosta?

Unknown disse...

Vitto excelente artigo.
Muito bem visto este tema, por momento até pensei k estava noutro tasco.

Joao disse...

Oh vitto e o JJ? XD XD

lawrence disse...

Bom jogador dá bom treinador?
Definitivamente, não!
Há é excepções!
Sou de opinião que para se ser bom treinador é necessário ter "cheirado" o balneário, isso sim!
Vitto, boa posta!

C. disse...

O Maradona fartou-se de cheirar... mas foi coca.

Um off-topic, os sportinguistas ja podem criar um blog chamado "o cabelo de capel", ora vejam:

http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=365067

será q foi da crise e nao tinha dinheiro para cortar o resto da guedelha?

Mota disse...

O nosso "Deus" Pablo Aimar é que por esta altura já deveria estar a treinar o SLB b, para poder vir a ser num futuro muito próximo o grande treinador que o Glorioso precisa.
Há dúvidas?...eu não tenho...espero sinceramente que lhe dêem essa oportunidade!!!

Anónimo disse...

Exibir ignorância é dramático... por que não falas de Del Bosque? E já agora: o Beckenbauer foi campeão do Mundo

Primal_X-man disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Primal_X-man disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Primal_X-man disse...

Post interessante. Falta a excepção a regra em Carlo Ancelotti que ganhou 2 dois campeonatos da europa como jogador e duas champoins como treinador

Vitto Vendetta disse...

E depois? O Cruyff também foi campeão europeu, mas esteve pouco tempo como treinador, assim como o Beckenbauer. Quanto ao resto, e tirando os primeiros parágrafos, a análise é sobre treinadores que jogaram até ao fim dos anos 90, inícios de 2000.

LDP disse...

Bom post. Com duas imprecisões: Stramaccioni foi jogador profissional e tem apenas 35 anos.

Já Conte está apenas na sua segunda época á frente da Juve.

hertz disse...

O Stramaccioni foi jogador mas teve uma lesão gravíssima com apenas 19 anos e aí acabou a carreira. Tem neste momento 36 anos.

Anónimo disse...

O Beckenbauer foi campão do mundo com a Alemanha em 1990