Querido Líder

Antes de ver a entrevista (só tive oportunidade de ver hoje), estava um pouco reticente, pois acho que Vieira já tinha falado aos benfiquistas do alto do autocarro, no Marquês, e terá sido um dos melhores momentos desta época. Confesso que tinha muito medo (gato escaldado...) que dali saísse algo que não me agradasse muito ver na pessoa de um presidente do SL Benfica. Mas não foi assim.

Se há coisa que o Vitor Gaspar (oi? quem? já não se lembram?) veio trazer a Portugal, foi aquilo que carinhosamente chamo de 'ora metes o pau tu, ora meto o pau eu', ou 'paneleirice do caralho', para os mais sensíveis. E o que é? Pois bem, é quando um entrevistado responde a uma pergunta com um "Ainda bem que faz essa pergunta", ou aquela coisinha linda que é "Acho que não era bem isso que queria perguntar". Vitor Gaspar não perdia uma para meter também o pau, porque os jornalistas são uma merda, e há que ficar por cima.

Na entrevista de Vieira, não gostei que as primeiras palavras fossem "Ainda bem que pergunta isso". Implicância minha, mas que merece um destaque da minha parte, pois sempre me incomodou a forma como Vitor Gaspar utilizava essas paneleirices, para mostrar ao jornalista quem manda, e dar aquele ar de controlo, de quem recebeu o guião com as perguntas antes de dar a entrevista.

Hugo Gilberto, o que não é incómodo, fez bem o seu papel, embora lhe falte algo. (Provavelmente falta-lhe benfiquismo, e, obviamente, isso não é requisito para aquela posição, muito pelo contrário, por razões óbvias)

Vieira esteve muito bem, e reforçou algumas ideias das quais já me passavam ao lado sobre a sua pessoa que, verdade seja dita, o homem sempre teve qualidades que devem ser enfatizadas, e concordo no facto de Vieira não ser populista e demagogo, até porque o nosso clube é o clube do povo, e qualquer acto menos elitista que se tome, nunca pode ter o sentido pejorativo normalmente atribuído a 'populista', pois nós somos o povo.

O melhor momento de toda a entrevista, foi quando Vieira aludiu à decisão de manter Jorge Jesus com o velho enigma do muro. Estás em cima do muro, e não podes ficar lá, só tens de escolher o lado para que saltas. Muitos líderes preferem ficar em cima do muro, esperando que um dos lados mostre sinais de relva mais fofinha, mas um verdadeiro líder é mesmo aquele que salta logo, pisa-se todo, recupera-se, e faz com que aquela seja a melhor relva à volta do muro, para que quando esteja lá novamente, lhe seja muito mais fácil saltar novamente para esse lado. Foi brilhante. Digno de um Líder, seja ele da Coreia do Norte, da Macedónia, ou dos USA.



O único momento em que Vieira perdeu a entrevista, e foi safo pelo facto do Hugo Gilberto estar numa onda mais formal, e menos de conversa, na altura em que disse que o Benfica respeitava os adversários, pois o jornalista rapidamente daria a volta à entrevista perguntando quais as consequências dos actos de Jesus em terras de Bale. (Atenção, eu não condeno Jesus por esses actos, mas eu não sou presidente, e confesso que se estivesse no lugar dele e viessem com essa pergunta, eu borrava-me todo).

Mas, o que fica, é uma grande entrevista que serviu para sossegar os benfiquistas, para calar alguns jornais (e blogs), cheios de teorias da piça, e para devolver algo a Vieira que perde muitas vezes - o carinho da maior parte dos adeptos (dos sócios sempre teve).

Gostei muito.

PS: Não posso deixar ainda de referir que o Pedro Guerra, com o super poder da argumentação, é contra este tipo de entrevistas, pois não é à Benfica TV. Mas, na minha opinião, as entrevistas de Vieira devem ser sempre dadas à RTP, porque Benfica e Portugal serão sempre um só.

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