A vontade de Fernando de jogar pela selecção portuguesa levantou de novo a questão da utilização de jogadores naturalizados nas equipas nacionais e neste caso na nossa. Trata-se de uma questão recorrente em Portugal, mas o debate sobre Fernando ultrapassou as fronteiras do nosso Pais. Isto porque se trata efectivamente de um grande jogador e, sobretudo, do tipo de jogador que faz falta a Portugal. Um jogador capaz de fazer o trabalho sujo que Miguel Veloso não consegue fazer, que liberte mais os companheiros de meio-campo para as manobras ofensivas, nomeadamente João Moutinho e um dos pernetas que tem jogado com ele (Ruben Micael, Josué e, infelizmente, Meireles que deixou de jogar o que jogava). Duas posições são afirmadas perante estes casos e que reduzo aqui a estas ideias simples : uma defendendo que a selecção portuguesa deve ser constituida por portugueses, outra que afirma que é a qualidade da selecção que deve ser tida em conta.
http://www.sofoot.com/fernando-un-bon-portugais-176960.html
Penso que a portugalidade da selecção não é em nada afectada pela utilização de jogadores naturalizados. Um dos argumentos apresentados para defender que a selecção deve ser constituida por jogadores exclusivamente portugueses é a de que, na selecção, o que mais conta é o amor pela camisola, a entrega dos jogadores dependendo do facto de sentirem que estão a representar um povo, o seu, aquele do qual eles fazem igualmente parte. Assim sendo, mais mesmo do que a qualidade dos jogadores, a constituição da selecção nacional deve ser feita à imagem da nação portuguesa pois é isso que a selecção representa.
Ora, tenho grandes dificuldades com este argumento e por vàrias razões que passo a apresentar :
Este argumento parte do principio que um português quererà sempre mais e melhor para o seu pais do que um estrangeiro, o que està longe de ser evidente. Isto porque existe uma grande diferença entre ter uma nacionalidade pelo simples facto de ter que nascer em algum lado e escolher a nacionalidade pela sua propria vontade. Como é natural, quem desde o seu nascimento pertence a uma familia tem uma relação afectiva importante com ela. Contudo ela não é em nada superior a um reconhecimento que resulta não de uma imposição mas de uma escolha.
Existe igualmente a questão cultural e historica que tem a ver com a identidade portuguesa, isso do ser português. O que a historia e a cultura mostram é que a identidade portuguesa é tudo, menos pura. Ela sempre foi o resultado de misturas (Celtas, Romanos, Germanicos - Gotos e Francos, Arabes, Judeus) e mesmo a grande contribuição que Portugal deu à historia universal fê-lo através de mestiçagens. Durante as Descobertas a colonização portuguesa fez-se em grande parte graças ao matrimonio com as populações locais. Na medida em que Portugal tinha poucos recursos humanos, os vàrios reis de Portugal atribuiam a liberdade aos prisioneiros caso estes fossem para as colonias e fundassem familias com as populações locais. No Mosteiro dos Jeronimos, outro exemplo, podemos ver uma gravura datada do século XVI onde vemos um triangulo que tem no vertice superior Deus e nos dois inferiores, ou seja ao mesmo nivel, o Rei Dom Manuel I e o Rei do Congo. Por outras palavras, a afirmação que aos olhos de Deus somos todos iguais e nada nos separa. Outro exemplo, na arquitectura onde o estilo propriamente português é o manuelino que é o resultado da mistura de referências europeias e orientais. Este universalismo e abertura faz com que a identidade de Portugal não seja fechada sobre si mesma como o podem ser outras. Pelo contràrio ela é mestiça por natureza, o que levou Fernando Pessoa a afirmar que não existe nada de mais anti-português que o nacionalismo. Uma selecção portuguesa com vàrias cores reflete mais a portugalidade que uma selecção que seria o resultado de pessoas que por acaso nasceram no territorio nacional e que por isso nem escolheram pertencer a Portugal.
Mas da mesma forma que o facto de nascer em Portugal não significa que façamos o bem pelo nosso Pais, o facto de alguém escolher a nacionalidade portuguesa não implica um real reconhecimento e uma sentida gratidão. Penso que o caso Fernando é especial precisamente por isto. Portugal jà teve vàrios jogadores não nascidos no nosso Pais e que contudo nunca provocaram a discussão que Fernando provoca. Isto porque Fernando não é coerente nas suas tomadas de posição. No inicio de 2013 manifestou que o seu interesse era o de jogar pelo Brasil. Passados meses, e vendo que tal vontade dificilmente seria realizada, dà uma entrevista manifestando todo o seu "amor" por Portugal. Este é o sinal de que, finalmente, o interesse de Fernando não é tanto, como ele diz, de representar Portugal como forma de agradecer tudo aquilo que Portugal lhe deu. Esta incoerência mostra sobretudo que a mudança de atitude é motivada por um interesse pessoal : obviamente o de participar na principal competição de futebol que se realiza... no Brasil!
Toda esta situação deveria inspirar a FPF a estabeler critérios objectivos permitindo a utilização ou não de jogadores naturalizados. Critérios que devem ir além da simples naturalização do jogador para considerarem igualmente as suas reais motivações. Entramos aqui num campo de dificil analise visto que tais motivações são sempre subjectivas. E também não sei até que ponto a FPF pode formalizar uma discriminação entre cidadãos portugueses (estes, independentemente do local onde nasceram, são iguais perante a lei, nos seus deveres e direitos). Mas sei que, oficiosamente, um treinador pode ter em conta as declarações dos jogadores... e quando um jogador num espaço de seis meses muda de opinião de uma forma radical, suspeitar dele. A selecção portuguesa deve ser à imagem de Portugal, da verdadeira identidade portuguesa que não é essa dos nacionalistas (o nacionalismo não é mais do que a virtude dos brutos, como disse muito bem Joyce). Ela não deve ser um simples instrumento para a realização de interesses pessoais.
15 comentários:
Já há critérios:
1- Não ser do Benfica
2- Ser do interesse do Pinto da Costa
é boa a tua análise!
Ainda assim, tás a esquecer de referir o principal motivo desta suposta integração do Fernando:
- Sair do Porto por mais euros!!!!!!!!!!!!!
Assim, apesar de poder concordar contigo, penso que nos ultimos tempos estas naturalizações, só demonstram o CONTROLO TOTAL do FCP na FPF.
Já agora:
1 - Onde vivem os ultimos jogadores naturalizados?
2 - Qual a sua origem clubística em Portugal?
3 - Se fosses para um pais da CPLP com 17 anos, deixavas de te sentir Português?
Deixem -se de merdas, isto é uma negociata do FCP, já muito vista.
"Ser do interesse do Pinto da Costa"
Eu diria antes, ser do interesse do Jorge Mendes e Fernando não é do Jorge Mendes por isso acho que não serà chamado.
"Se fosses para um pais da CPLP com 17 anos, deixavas de te sentir Português?"
Porque razão o facto de eu representar, imaginemos, Angola significaria que teria deixado de me sentir português? Se Angola me tivesse dado tudo a nivel profissional representà-la-ia com todo o gosto por reconhecimento por tudo o que ela me teria dado. E contudo poderia muito bem continuar a sentir-me português, reconhecer que faço parte da cultura portuguesa.
"Onde vivem os ultimos jogadores naturalizados?"
Muitos deles nas mesmas cidades onde vivem os que nasceram em Portugal.
O William Carvalho é superior a este "polvo".. Espero portanto que bentinho faça a boa escolha!
Mas disso já tenho sérias dúvidas visto que lá andam micaeles & cepos almeidas...
PS:Pena o "NéOlibeira" ter falhado aquele penálti teria sido o "homem do jogo"!... Mas fica aquele GOLAÇO(mais um!)na mesma.. :)
Não sei mesmo porque os lagartos(& outros andruptos..)andam sempre a fazer pouco dele ao ponto de pensar que aquele Betinho é superior(looool)
Quando Nélson "Furacão" Oliveira é um JOGADOR COMPLETO("avançado total"),o outro só é um pequeno finalizador("rato de área")à la Pipo Inzaghi!
Não fazem a mesma profissão,portanto...
Também penso que o William é melhor.
Sobre o N. Oliveira, também vi o jogo. Pena o penalty, mas teve outros lances bons. Jà leva 7 golos em 11 jogos apenas atraz de Falcao e de Cavani... à frente de Ibra.
Pela primeira vez na vida é titular com regularidade e a produção dele é excelente.
Depois la fora pensam que Portugal é um país de pretos ou mulatos e eu não sou propriamente racista mas não quero isso.
O Benfica foi bi campeão europeu com jogadores portugueses,o sporting ganhou a taça das taças com jogadores portugueses,o porto foi campeão europeu tanto em 87 como 2004 com jogadores portugueses,eu pergunto,será que nos somos assim tão maus? E se somos paciencia,faz algum sentido,vamos imaginar que portugal era campeão do mundo,com jogadores naturalizados brasileiros ganenses angolanos,ucranianos etc....isso fazia sentido para alguem?Para mim não
"Depois la fora pensam que Portugal é um país de pretos ou mulatos e eu não sou propriamente racista mas não quero isso."
Não és racista... Isso não sei, contudo o que sei é que tens um complexo qualquer. Qual é o problema de "là fora" pensarem que somos um pais de pretos e de mulatos?
Sobretudo porque Portugal TAMBEM é um pais de pretos e mulatos.
http://www.youtube.com/watch?v=KjjZeUcSn6w
Rui 2 só podes estar a brincar! Sabes que o Sr. Coluna era apenas português porque Moçambique era uma colónia.
Antes um pais de pretos e mulatos do que racistas acéfalos.
Estava a pensar numa coisa,afinal o único "survivor" daquela famosa "Geração Coragem",é mesmo o NÉLSON OLIVEIRA!
Onde está o Mika?.. Pó caralho!
Rodericke&NunoReis?.. pó caralho!.. Mario Rui?.. pó caralho.. aquele "trio black" do meio-campo Danilo-Pelé-Sana??.. pó caralho tb!!
E o irmão do "Bruto",aquele génio("Julio" é isso?)??... esse pronto,coitado,nunca saiu de lá(do caralho)...
Carreira dele é autêntica piada(como aquela do "bro",alías)!.. "Obrigado Jorge Mendes"..
Continuando.. Os avançandos Alex-Rafael Lopes-Caetano-Amido Baldé(etc..)??... Onde é que anda essa malta toda??... pó c.....
Não!.. o ÚNICO que sobreviveu,o derradeiro "corajoso"(moicano),que SE SAFOU(7 golos em 11 jogos,meus senhores!)é mesmo o grande "NÉ"!!
...Ah sim,há também aquele do Paços que mostra boas indicações;Sergio Oliveira...
Esse tb,se tiver vontade e cabecinha talvez pode dar jogador(de top?),porque tem talento de facto!
(Luis Martins idem.. ?)
Sim Ozil, mas vamos ter atenção a uma coisa. Se o Nelson Oliveira està a marcar muito é porque, primeiro, pela primeira vez na vida o gajo joga 90 minutos e, segundo e sobretudo, porque està numa equipa em que joga em profundidade.
Como na selecção no mundial de putos, o jogo do Rennes não é um jogo de controlo da partida como seria se jogasse no Benfica. Não é um jogo por isso onde passa a maior parte do tempo entre dois centrais, mas um jogo onde parte do meio-campo em lances de transição ràpida.
Por esta razão não sei até que ponto ele conseguiria adaptar-se ao jogo do Jesus. Se por um lado jogaria contra equipas fechadas na defesa (o que penso que não o beneficia), por outro o Benfica tem muitos momentos de transição nos quais ele poderia ser um elemento importante. Alias, as transições ràpidas foram durante muito tempo a marca do Benfica do Jesus (que agora parece estar a mudar para um estilo mais pousado).
Eu penso que o Nélson Oliveira ainda pode tornar-se num grande avançado. Tenho fé no miudo. Temo é que não seja no Benfica.
A resposta é não, absolutamente não. E a questão não tem nada a ver com nacionalismos, xenofobia, etc, mas sim com a própria sobrevivência do futebol português, que depende da criação de jogadores portugueses de qualidade em largo número, o que possibilitará aqueles 3 fora de classe por cada 100 000 (números ao calhas mas a ideia percebe-se).
A única finalidade do futebol de selecções, se assim o quiseres chamar, nos nossos dias, é o de formar jogadores, e de oferecer aos jovens jogadores as infra-estruturas e a formação que eles muitas vezes não encontram nos clubes de origem. Em termos de qualidade futebolística e prestígio as competições de clubes estão já em outro nível.
Em suma, aquilo que aconteceu na Alemanha depois do descalabro do Euro 2000. A Federação no seu todo deveria priveligiar unicamente o jogador português e criar um plano com os clubes para priveligiar a formação destes.
Deveria reger-se por critérios de longo prazo, ao invés de tapar buracos com naturalizações, porque se continuarmos assim, por 2020 até o Helton vai ser naturalizado.
Se isto implicar ficar fora de algum Euro ou de algum Mundial e descer bastante nos rankings então assim seja (aliás, a qualidade desta selecção está a milhas abaixo da posição que ocupa no ranking). São apenas números e aparências, e convém não nos esquecermos que se começámos a ir a mundiais outra vez o devemos à geração de 90-91 - isto é, no tempo em que o jogador português era lançado nas equipas com 19, 20 anos.
Por vezes é preciso dar um passo atrás para dar dois em frente. Haja a sapiência na FPF de ter coragem e por mãos à obra.
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