Tempestades em Benfiquelm Street

'Mas neste passo, assi prontos estando,
Eis o mestre, que olhando os ares anda,
O apito toca: acordam, despertando,
Os marinheiros dũa e doutra banda,
E, porque o vento vinha refrescando,
Os traquetes das gáveas tomar manda.
– «Alerta (disse) estai, que o vento crece
Daquela nuvem negra que aparece!»'
(Lusíadas, Canto VI, Estrofe 70)

Adivinham-se para breve Dias de Tempestade. E estes não envolvem a Nicole Kidman descascada no viço dos 20 e poucos anos. Não, vão ser dias de nuvens negras, cheias de chuva, trovões, saraiva e vento.

Depois daquele holocausto em Maio, onde em 15 dias perdemos tudo, já se sabia que a pressão para a época seguinte ia pesar como um Scania carregado de blocos de cimento e conduzido pelo Fernando Mendes do preço certo sobre os ombros do treinador e da equipa.
O que é que a direção fez em relação a isso? Pôs um lutador de Sumo como ajudante do motorista. Como? Simples...

- deixaram a situação do Cardozo degradar-se e tornando, ao mesmo tempo, a venda e a reintegração mais difíceis;
- deram mais poder ao treinador sem o protegerem da pressão do exterior nem de si próprio (quase a conquistar a hegemonia, né?)
- a construção do plantel foi mais ou menos semelhante a termos o Givanildo Retardado Vieira de Souza alcoolizado a resolver problemas de trigonometria;

Na minha terra (mas se calhar até é provérbio nacional) costuma-se dizer que "Errar é próprio do Homem, teimar no erro é próprio dos burros". Ora, eu faço uma adenda ao provérbio: "Errar é próprio do Homem, teimar no erro é próprio dos burros ou...de quem está a errar de propósito."
Tanta asneira, tantas vezes repetida não poder ser mera burrice. Um presidente que tem subido de forma consistente na lista das pessoas mais ricas em Portugal de burro deve ter pouco ou nada.

Milhões para o ataque, pechinchas para a defesa. O embaraço que temos que suportar com o caso Roberto (nunca acreditei nos 8,6 ME mas nunca pensei que na verdade tivessem sido 0,0 ME). O Mora não serve mas o suplente dele sim. Promessas da formação vão para clubes dirigidos ou treinados ou as duas coisas por gente hostil ao Benfica. Jogadores às carradas, mas o plantel a evidenciar lacunas, quase sempre as mesmas.
E jogadores como o Pizzi ou o Fariña? Das duas uma: Ou fizeram considerações insultuosas sobre a mãe do JJ logo no 1º treino (eles chegaram sequer a treinar?) ou então foram comprados para pagar favores a alguém.

No fundo, não era nada que já não suspeitasse, mas neste defeso tive a confirmação plena. Para quem dirige o Benfica o que interessa são os negócios. As conquistas desportivas são coisa secundária.
O nosso core business (para todas as darlings que sentiam falta da minha classe neste Verão) já não é ganhar títulos. É negociar jogadores.

Não falei nas indefinições graves sobre os craques que vão sair porque dou o benefício da dúvida. Para que saiam é preciso que alguém os compre. Claro que uma direção minimamente empenhada em ganhar títulos já tinha tentado acautelar as saídas mais prováveis com a compra e entrosamento de substitutos na equipa.

Toda a macacada que tem sido este defeso, a culminar em dois jogos muito fraquinhos tem-me tirado horas e horas de sono. Sinceramente, a única vantagem que vejo nisso é o facto de tornar muito remotas as hipóteses de o Freddy Krueger me esquartejar todo às postas.
Mas não sou um gajo egoísta. De bom grado preferia enrolar-me descansadinho nos lençóis e adormecer como um anjinho, com a confiança de que quem dirige o Benfica está de boa fé, a dar o seu melhor e a desejar ardentemente uma época de sucesso desportivo. Mesmo que na manhã seguinte o meu quarto estivesse todo badalhoco de sangue e tripas, numa disposição semelhante àquela com que fica uma retrete quando temos aquelas caganeiras fulminantes. O pedófilo retalhador tinha-me apanhado mas ao menos o Benfica ia estar bem entregue!
Eu sei que não faz muito sentido perder o sono com isto. Uma pessoa mais simples e sabida da vida dir-me-ia: "o teu mal é não partilhares a cama com uma copa duplo D". E se calhar tinha razão. Mas porra...É o Benfica!!!!

O campeonato vai começar daqui a pouco menos de uma semana e já não me lembrava de estar tão pessimista. Nem no Verão de 2011, em que a nação benfiquista tinha acabado a época anterior com uma série de fraturas expostas.
Os erros (?) repetem-se, 'primeiro como tragédia, depois como farsa'. Só que neste Verão já não vi alegria na equipa, não vi aquela vontade, aquele optimismo de quem, por pior que tenha sido a época anterior, aparece de cara lavada para a época seguinte. Desta vez, aquele final terrível de 2012/2013 parece ter deixado marcas demasiado fundas na equipa e no treinador.

Mas, caríssimos benfiquistas, não há nada que já esteja decidido à partida. Se a direção não cumpre o seu papel, vamos nós cumprir o nosso! Toca a apoiar os jogadores e a equipa, mas apoiar incondicionalmente e sem assobiadelas! Apoiar a equipa e os jogadores não é apoiar a direção. Aliás, são coisas muito diferentes.
Quem sabe se as coisas não começam a correr bem e a equipa se motiva e galvaniza? A coisa parece negra, mas se não tentamos contrariar, aí é que fica negra de certeza.

Não quero parecer um intelectual que percebe muito disto, a sério. Não quero ter razão, não quero chegar a Maio de 2014 a dar numa de Cavaco Silva e os seus "Eu bem avisei".
Não! Eu quero que em Maio de 2014 me esfreguem no focinho tudo o que escrevi hoje enquanto dizem que eu como caca de caracol às colheres e não percebo nada disto.

Bora lá, Nação Benfiquista! Encontrem forças, sejam resilientes e galvanizem-se! Vamos dar o exemplo, para a equipa voltar a sorrir e a ter gosto em querer fazer-nos sorrir!
Força Benfica!

«Este é, por certo, o troféu que buscais

Da verdadeira Glória, que aparece;

E se do mundo mais não desejais,

Vosso trabalho longo aqui fenece.»

Sofrer aqui não pôde o Benfiquista mais,

De ledo em ver que a terra se conhece;

Os giolhos no chão, as mãos ao Céu,

A mercê grande a São Eusébio agardeceu.

(Lusíadas, Canto VI, Estrofe 93)

(a versão original era mesmo assim, juro!)

p.s. - Não, pá.. Não estou ao serviço do Bruno Carvalho, do Veiga ou do Darth Vader