O azar do Sporting

Somos um clube com azar**. É uma ideia feita que circula pelos ares de Alvalade desde há muito tempo e nem seriam preciso os 327 remates do Postiga aos postes enquanto esteve no Sporting para confirmar esta  percepção.  Bastaria relembrar a infame maldição da camisola com o número 7 que, ano após ano, tem aniquilidado quase todos os jogadores que a envergam desde Figo – Delfim, Nicolae, Iordanov, Leandro, Izmailov, Sá Pinto, Jeffrén, etc.

Mas esta assimilação de que a superstição – e não o mérito – influi na “fortuna” da equipa do Sporting já remonta desde, pelo menos, os anos 20. Reza a história* de que, por exemplo, o mítico Francisco Stromp arrancou da camisola a estrela de capitão porque sonhou que com ela nunca ganharia o Campeonato de Portugal. Portela, outro jogador de então, só depois de estar equipado é que tirava o chapéu de coco com que entrava no balneário - e avisava que se alguém lhe tocasse seria azar pela certa.

E que dizer desse supro-sumo exemplo de superstição  que fez com que hoje o Sporting seja conhecido mundialmente pelas suas camisolas listadas a verde e branco?

É que*, em Outubro de 1928, após terem sido utilizadas numa digressão no Brasil como forma de superar o calor que se fazia sentir então, as camisolas listadas a verde e branco, “emprestadas” pela secção de râguebi, foram utilizadas na segunda parte de um jogo contra o Benfica porque as camisolas “Stromp” (metade vertical branca e a outra verde) estavam encharcadas devido à chuva que caiu durante a primeira parte e como deram “sorte”, pois o Sporting bateu o Benfica por 3-1, as camisolas do râguebi passariam, definitivamente, a ser o equipamento principal e a “Stromp”, o secundário.

A sorte – e o azar – estão intrinsecamente ligados ao Sporting. Desde o presidente, passando pelo treinador e jogadores e acabando nos adeptos, todos sentimos que temos azar.

Tivemos o azar de José Eduardo Bettencourt e de Godinho Lopes serem sportinguistas, temos azar com os árbitros, temos azar nas contratações, temos o azar de ter um relvado de merda, o azar de não termos uma Câmara a quem pagar uma renda pelo aluguer do estádio ou da Academia, enfim, temos um azar do c#$%%@.

E quando vi o Betinho, no último jogo Sporting B 2-2 Feirense, a mandar uma bola ao poste no últimos minutos de jogo, quando já nos encontrávamos a jogar com 10, aí sim, tive a certeza de que o “azar” da equipa A já tinha “infectado” a equipa dos putos. E nem foi preciso um jogador da equipa principal, Marcelo Boeck, ter sido titular nesse jogo para eu perceber que a “infecção” já alastrou para a equipa B. 

Sentia-se que era uma questão de tempo até tal acontecer.

E como se combate o “azar”? Alterando os hábitos. Tal como o vulgar adepto de sofá que quando vê a sua equipa a perder ao intervalo, resolve mudar de lugar com o filho para ver se dá “sorte”. Ou quando aquele adepto no estádio que acende o "cigarrinho" que dará sorte.

Esta merda de camisola dá azar.

Assim, peço, pelo amor de Deus, não joguem mais com a puta da camisola laranja! Não é que com a camisola listada não tenhamos já perdido esta época mas com a laranja é que nunca ganhámos! (5 jogos, 3 derrotas, 2 empates)

Epah, mudem de sofá para ver se dá sorte. Ou deixem de fumar.

* Lido no "Equipamentos com História, Vol. II"

** (Este post não iliba nem pretende ilibar a merda de gestão do futebol profissional que esta Direção está a fazer. Ou não está a fazer, melhor dizendo.)