Cabelo Report - Colorados

Quando os irmãos Popper se mudaram de São Paulo para Porto Alegre em 1909, perceberam a falta de democracia existente nos clubes da região, e decidiram colocar mãos à obra e fundar aquele que seria o clube mais democrático do Brasil. Numa altura em que os clubes eram formados por colónias de emigrantes Italianos, Portugueses, Alemães e Holandeses, os irmãos Popper, e os novos associados, escolheram o nome de Internacional, para quebrar as barreiras existentes no futebol da altura, e isso fez com que, ao longo dos anos que se seguiram, muitos "torcedores" se fidelizassem ao Inter, com orgulho na sua fundação e nos seus valores.

O seu actual presidente, Giovanni Luigi, acredita estar no bom caminho:
"Somos o Clube Brasileiro e um dos 10 do Mundo com o maior número de sócios. Crescemos nos últimos dois anos e seguiremos crescendo porque são grandes as vantagens para nossos sócios."
E são mesmo grandes. Os sócios do Internacional estão sempre no pensamento dos presidentes que por lá passam. Com eleições a cada 2 anos, o Inter viu um dos períodos de Ouro da sua história, entre 2005 e 2011, 3 presidentes no seu comando, e todos partilhavam da mesma forma de gerir. Tudo pelos sócios.
E se lhe dissessem, que quando o Benfica ganha, você teria um desconto em cada Sagres? Os "Colorados" têm, não na Sagres, mas na cerveja Brahma.

Os jogos do Inter são relatados na Rádio Inter, onde os sócios intervêm por via telefónica, comentando os lances durante a partida. É um método inovador, e por vezes arriscado, mas que tem tido grande participação, porque é um orgulho para qualquer associado, poder ser comentador de futebol durante uma partida do seu clube.

Mas as surpresas não acabam na Rádio. O Jornal do Inter é vendido à moda antiga, com ardinas espalhados por toda a cidade de Porto Alegre, junto a semáforos, onde distribuem gratuitamente o jornal do clube. A distribuição está a cargo de crianças, sócias do Colorado, que recebem um pequeno ordenado pelo trabalho cumprido.

Com o aproximar do Campeonato do Mundo de 2014, o Inter está em obras no seu estádio, o Beira-Rio, e, numa brilhante ideia, contratou os trabalhadores directamente, procurando associados no desemprego e outros que pretendessem trocar para estarem associados à reparação do seu estádio. Muitos acorreram a esta iniciativa e a fila à porta do estádio era longa, mas foi um verdadeiro sucesso, empregando centenas de trabalhadores, todos Colorados, que ficarão para sempre orgulhosos deste período das suas vidas, como nos conta o sócio Paulo Molina, em declarações ao site do clube: 

“Eu larguei o outro emprego, em que até ganhava bem, porque sou colorado e queria fazer parte deste trabalho”. 

Paulo Molina tem ainda um filho a jogar nos escalões jovens 

“Eu ajudo a construir e quero que meu filho jogue no estádio e no Inter a vida toda”. 

A par da questão social e económica, a motivação, o empenho e o orgulho é o que mais salta à vista nesta iniciativa, aproximando os sócios do clube de uma forma arrasadora. 

Com bastantes projectos ainda em calha, o Inter prossegue os seus bastiões da democracia, do respeito e, sobretudo, da vitória, tudo isso com 100.000 sócios que têm uma certeza. São os sócios mais afortunados do mundo.

Cabelo Report é um novo espaço de reportagem sobre o mundo do futebol e será publicado todas as terças-feiras.