Foi com grande satisfação que entrevistamos o Ricardo, do blog Ontem Vi-te No Estádio da Luz, um blogger que sobressai nesta blogosfera pelas palavras carregadas de sentimento e pela sua forte sensibilidade critica que tantas "vaias" lhe têm custado por outros blogs mais próximos da actual direção.
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Cabelo do Aimar: És
um nome muito badalado na blogosfera benfiquista, e dos poucos que
tem direito a menções específicas em alguns blogs de muita
visibilidade. Porque começaste? O que te trouxe até aqui? O gosto
pela escrita ou o gosto pelo Benfica?
Ricardo:
Se há badalo, não pode ser pelos motivos mais dignos - alguma coisa
terei feito que chateou um alguém num planeta diferente do meu. E
isso até pode ser produtivo, normalmente tem sido - vêm e vão
ideias a voar para aqui e para ali e, no fim, ganha o Benfica.
Comecei por ser um leitor de vários
blogues benfiquistas: a Tertúlia, o Mágico SLB, o Encarnado e
Branco e outros que desapareceram e dos quais já não me lembro. De
tempos a tempos, comentava. E aquilo resultava em debate benfiquista
puro e duro, com insultos, misérias, preconceitos, alegrias, ódios
e amores, o que me enternecia, porque vi na net o que vivi sempre em
tascos refundidos e balneários nos quais bebíamos chá ao
intervalo. Se a internet tinha absorvido o odor da realidade, eu
queria fazer parte. Um dia chamei dois amigos (Sérgio e Rojerajacto)
e outro virtual (Americano) e imaginámos um blogue que preferisse o
literário ao político. Como quase sempre, a coisa descambou. E hoje
é um blogue que, entre variações melódicas e nostalgias, tem uma
identidade claramente nítida: detestamos quem dirige o clube,
achamos mesmo que é gente que não interessa a ninguém. Lá vem o
badalo. O gosto pelo Benfica e pela escrita sobre o Benfica são
gémeos.
CdA:
O que aconteceu aos teus ex-companheiros de blog?
R: O Americano
desapareceu do mapa - nasceram-lhe filhos, ele próprio irritou-se
com a realidade vieirista, o Adu (que ele ama) não deu jogador - e
foi pregar para outra freguesia. O Shankly não tinha tempo - tenho
pena, porque é um rapaz que pensa bem o Benfica. O Armando estava
contra tudo o que era escrito no blogue e, já se sabe, a democracia
tem de ter um limite. Continuam o Sérgio - que vai escrevendo, de
tempos a tempos -, o Roger - que escreve pouco mas muito bem - e os
dois novos elementos, que são benfiquistas tão bons que amparam as
minhas ausências, quando eu vou embezanar-me para o estrangeiro.
Podiam escrever mais, mas compreendo que não me queiram humilhar.
CdA: Estamos
habituados a ter dezenas de posts por dia, pela blogosfera, mas
geralmente são sobre acontecimentos ou personalidades ligadas ao
futebol. O que sentiste quando o boloposte te dedicou um post? Porque
fez ele isso?
R: Conheço o boloposte
há muito tempo, é um benfiquista de grande qualidade, homem de
piada fácil e, não raras vezes, genial. Infelizmente deixou de
escrever há uns dois meses e ainda hoje sinto, sentimos, a sua
falta. Não sei como nem por que vias, alguém que trabalha na
empresa do Juan Gabriel decidiu roubar o nick e a palavra-passe ao
boloposte e surgiu outra personagem no BnRb: o boloposte. Isto foi um
drama muito grande porque este ladrão, em vez de dissecar a
realidade benfiquista e futebolística nacional, começou a falar em
política do Benfica. E isso foi tremendamente chato, porque não
havia nada ali que tivesse algum interesse digno de registo. Como na
altura não sabia que o boloposte tinha sido roubado pelo boloposte,
perguntei-lhe o que se passava. Se tivesse sido o boloposte a
responder, seguramente teria tido uma resposta digna de um
benfiquista digno; o que tive, no entanto, foi a resposta de um
boloposte adormecido por estar condicionado que me chamou de tudo o
que de mais desprezível há na realidade do Benfica: de Veiguista a
vendido o banquete foi-me servido com grande pompa e de insultos na
mão. Ainda assim, na maior das nobrezas, perguntei-lhe: "então
esta merda que se diz de trabalhares para o Juan (afinal é Juan, não
João) Gabriel, é verdade?", ao que ele me respondeu, muito
assertivo: "não falo de coisas pessoais" e disse que sabia
que eu estava com os Veigas e Tavares desta vida. Como era uma
resposta de boloposte e não de boloposte, fui ler-lhe umas coisas
que ele tinha dito sobre o Gabriel e Vieira - coisas altamente
verdadeiras e justas e muito dignificantes. Ele chateou-se e, como
não falava de "coisas pessoais", fez um post contra uns
posts meus, no qual lançava para toda a blogosfera o meu apelido -
isto vindo de um boloposte e não de um João ou António Silva ou
Fagundes. Percebi que o boloposte nunca mais voltaria e, portanto,
deixei o boloposte entregue à sua miséria ambulante. Ontem ou
anteontem, verifiquei que este gémeo continua a sua sanha a todos os
que lhe perguntam pelo paradeiro do boloposte - o JNF, coitado, lá
teve de levar com mais uma bolopostada. E estamos assim. Eu devo
dizer uma coisa: este boloposte é muito chato. Leva-se muito a
sério. Sinceramente pensei que na blogosfera benfiquista só nós, o
Eterno Benfica e o Geração Benfica nos levássemos a sério. Mas,
pelos vistos, quando a fomeca aperta, a graça esvai-se em parolada.
O que é uma tragédia, porque ficam poucos que valham a pena ler.
Nós somos chatos por natureza; o boloposte tornou-se chato por estar
comprometido. Mas disso já Luís Fialho conhece toda a gramática.
Não me queres perguntar nada sobre o Luís Fialho?
CdA: Fala-nos de Luís
Fialho.
R: É um homem bonito,
dou-lhe isso. O problema é o resto: vendeu o corpinho do cérebro
por uma fatia de jornal do Benfica. Causa-me muito asco a ideia de
deixar os ideais junto às pantufas quando se sai de casa. Luís
Fialho quer vender-nos conceitos curiosos - o mais feérico consiste
em olhar para Joaquim Oliveira como um "homem de negócios",
praticamente amigo do Benfica, isto depois de ter feito um notável
post, em que identificava os irmãos Oliveira como trunfos
fundamentais do "sistema". O que é que eu posso dizer de
Fialho, como benfiquista? Digamos que não deixaria o meu cão
entregue à sua companhia, não viesse o pobre quadrúpede ladrar-me
em pintodacostês.
CdA: Mas as tuas
quezílias virtuais não se ficam só por Fialho e boloposte, certo?
No Bimbolagartada também já te dedicaram algum tempo.
R: Sim, tenho fãs por
todos os cantos da blogosfera benfiquista - o badalo, mais uma vez.
Bom, vejamos uma coisa: não sei se podemos considerar "blogosfera
benfiquista" alguém que escolhe para nome do seu próprio
blogue um nome tão asqueroso como "Bimbolagartada", mas,
enfim, deixemos as questões sexuais de lado. Bimbolagartada é um
blogue que se resume a uma função: dizer mal dos benfiquistas que
problematizam o Benfica. Se aparece alguém a dizer "eh pá,
isto é capaz de não ter sido muito bem feito por parte dos nossos
dirigentes" leva logo com uma talhada bimbolagartadiana mais ou
menos cruel ou um poema ridículo (o caro Joseph Lemos acha-se poeta,
o que é bonito e quase enternecedor). Disto fui lendo ao longo dos
tempos muita intervenção - sempre coadjuvado pelos escravos Manuel
e Tomás Pizarro -, mas o melhor, a épica loucura, o desvario
alucinante, foi quando Lemos - que funciona metodicamente entre a
espionagem universal e a louvável e laboriosa função de acupunctor
nas horas vagas - criou um extraordinário conto (só ao nível de
Pirandello ou mesmo ultrapassando-o) no qual teria descoberto a minha
essência: fui enrabado no Rossio ao Sul do Tejo por alguém que
Joseph Lemos não sabia identificar e inclusivamente andava a
fazer-me a homens casados, feito bicha tonta, por este país. Foi
bonito e acima de tudo pedagógico: descobri de mim coisas que
estavam na poeira do passado, abandonadas num passado do qual me
arrependo - afinal, destruí lares e falos decadentes. O maior
problema disto tudo - além de provavelmente os caralhos nem sequer
serem benfiquistas - é entrar no cerebelo deste Joseph Lemos e
descobrir, porta entreaberta, todo um mundo de ilegalidades que nunca
Pereira Cristóvão investigou. Por muito menos, Carlos Cruz virou
notícia.
CdA: Vê-se muito por essas
caixas de comentários muito ódio entre benfiquistas.O que é que
leva a que um benfiquista vire todo o seu ódio a outro benfiquista?
R: Muito ódio mas
também muito amor. Deixa-me lançar aqui as minhas setinhas de
querubim: gosto muito do Diego Armés, do M. ("Lá em casa mando
eu"), do Éter e do Luís Rosário ("Céu Encarnado",
que infelizmente acabou), do JNF e do trainmaniac (do "Eterno
Benfica"), do Pedro e do Bizarro (do "Mágico SLB"),
do Miguel Romero (do "O Sócio Cativo"),de todos do
Ndrangheta, da equipa do Geração Benfica e de muitos outros que
escrevem bem sobre o Benfica, que o reflectem e ao qual trazem algo
de si. De amor, conheço. De ódio, desconheço. Mas assumo que o
último é um sentimento mais fácil - pelo menos, mais imediato e
gratuito. Do que não gosto é de gente que não sabe conviver com
opiniões contrárias - isso, sendo benfiquista ou não, não
respeito. E, claro, gosto de ti. E do teu gémeo, o B.. E do gémeo
do teu gémo, o MédioCriativo.
CdA: E sobre ti Ricardo? Como
diz o outro, o que dizem os teus olhos?
R: Os meus olhos têm
raios vermelhos de benfiquismo e manchas de figadeira. Vêem sempre o
meu Pai em Estugarda e Viena nas finais de 88 e 90 e a tristeza com
que ele chegou a casa das duas vezes. Vêem um Benfica que
provavelmente já desapareceu mas que eu vou levar no peito,
orgulhoso, para cada recanto do mundo por onde ande. Vêem um Benfica
possível que não é este e vêem - desculpem a afronta - um Benfica
liderado por gente capaz de respeitar a memória do Cosme Damião.
CdA: Falas do teu pai. Como
era a vossa relação, e como contribuiu para o teu Benfiquismo?
R: Falo no meu Pai porque
é uma presença constante, no meu benfiquismo e na minha existência.
Os textos que escrevo vão sempre encontrá-lo no seu benfiquismo
mais honesto e devastador e causa-me tanta estranheza ele não estar
agora aqui, a chamar-me nomes por dar esta entrevista sem filtros.
Olha, como o boloposte que perdeu o Pai há pouco tempo. Quando chega
aqui, só me apetece abraçar o boloposte e dar-lhe um beijinho.
Joseph Lemos fará certamente um conto sobre isto.
CdA: Pareces ter uma
forte ligação com o passado. Inclusive o layout do teu blog é
inspirado não só nas figuras míticas do nosso clube, mas como
outras personagens da história Portuguesa. És um saudosista?
R: Sofro muito por saber
o que foi o Benfica, ainda consegui encontrar o Benfica antes de se
estampar contra uma montanha de equívocos. Todo o passado do clube
deve ser constantemente relembrado, nem que seja para não
esquecermos que existiu um clube vencedor, honesto e dirigido por
gente que respeitava as nossas origens. Enquanto for vivo - e pode
não durar muito - essa é uma das minhas missões: lembrar ou
relembrar os benfiquistas do que é este clube, do que foi, da
honestidade que temos de orgulhar. Sou saudosista, claro, porque
trago no sangue, no cérebro e em sítios que desconheço um
benfiquismo feito de memórias que me moldaram não só como ser
humano mas como ser intergaláctico e também como alguém que acorda
e fica dez segundos maravilhado entre os resquícios do sonho e o
nascimento de uma nova realidade. Depois o meu cão lambe-me a cara
toda com a sua linguinha de boas-vindas e, de alguma forma, tudo
está, ou deve estar, no seu caminho ideal.
CdA: Tens alguma ideia sobre
quem pode incutir o verdadeiro sentimento de Cosme Damião na
direção?
R: Não tenho. Olho para
esta gente que vive em redor do Benfica - quem lá está e quem o
quer alugar - e só vejo figuras macabras. É possível que esteja a
ser injusto, estou a ser injusto seguramente. Tanto na actual
Direcção como na oposição há pessoas de qualidade, o problema é
que estão espartilhadas. Tenho assistido com curiosidade às
manobras ofensivas pelas alas de quem quer uma candidatura real às
eleições do Benfica e fico perplexo. O que faz Tavares - homem que
respeito - com Veiga? Que espécie de lição pode sair daqui, de uma
suposta candidatura que nos traz um homem que foi Presidente da Casa
do Porto no Luxemburgo? Lutar contra Vieira com outro Vieira? É
pouco, pobre, ridículo. Gostava de saber em que mundo andam os
benfiquistas que estão fartos desta gentalha que vive o Benfica como
quem compra camisolas no Continente da Amadora ou atira um peido no
elevador. Será possível que, entre tantos benfiquistas, não haja
quem seja capaz de amar este clube e o elevar a um patamar de
competência e paixão? Às vezes vezes penso nisto e fico sem
resposta. Não há por aí - leitores atentos - quem queira ajudar o
Benfica, só pelo prazer de fazer bem e de honrar o nosso clube? Pode
ser pobre - convém que seja pobre! -, pode ser inculto, ignorante,
mentecapto. Prefiro isso a estes chicos-espertos que tomaram conta do
clube ou os que querem dele tomar conta. Foda-se, benfiquismo e
competência; competência e benfiquismo - é disso que precisamos.
Eu faria uma lista mas sou demasiado bêbado para isso.
CdA: Mas podes sugerir alguns
nomes que gostavas de ver nessa lista, por mais impossível ou
ridículo que possa parecer a quem lê?
R: António Gomes Mota,
Maestro Victorino d´Almeida, Carlos Daniel, Pedro Pinto, Júlio
Machado Vaz são pessoas a quem reconheço benfiquismo e competência.
Mas falta alguém que saiba juntar uma equipa. E, claro, alguém que
domine o contacto com os bancos - sem eles, nada feito, visto que o
Benfica está, ao contrário do que nos querem vender, na falésia,
quase-quase a cair por cima de pedras lancinantes. Na blogosfera,
reconheço em Luís Rosário o perfil adequado a fazer parte de uma
equipa de gente com qualidade, não só benfiquista mas profissional
e capaz
CdA: Um dos escudos desta
direção são as más arbitragens. O que achas da nomeação de
Proença para a final da Champions, e agora do Euro?
R: Se são escudos, não
parecem. Uma Direcção que é incapaz de detectar os perigos e
combatê-los de frente é uma equipa de tontos e de mentecaptos.
Nesse sentido, para mim é muito simples: quem apoia corruptos para
os principais poisos do futebol português, não tem legitimidade
para criticar seja o que for. Tal como os adeptos que apoiam esta
Direcção e pretendem justificar este "apoio inequívoco"
sob a capa de um plano estratosférico que pretende eliminar os maus
da festa. Vieira apoiou esta gente e esta gente tem continuado a sua
saga de apoio ao clube que ganha ilegalmente há 30 anos. Quem apoia
Vieira, está a apoiar inequivocamente as desilusões e roubos com
que temos sido brindados. Dito isto, não me espanta que Proença
seja nomeado para a final do Euro - é um bom árbitro, dos melhores
que há no universo europeu. O que só corrobora mais o facto de que
é um verdadeiro ladrão, em solo nacional. Mas como nós apoiamos o
Presidente da Federação, deve estar tudo certo. E viva o Fernando
Gomes, o Vítor Pereira (não o incompetente que ganhou um título
sobre o nosso "mestre da táctica", mas o outro) e, por
consequência, o Vieira!
CdA: Então, para ti, o
caminho do sucesso atinge-se também ao terminar todas as ligações
ao "sistema". Na tua vida extra-benfiquista, também
combates o sistema?
R: Não sou de ir para a
Avenida da Liberdade com garrafas cheias de uísque e dois bolsos com
charutos de ganza gritar "Governo para a rua". Fico-me pela
frase "Bom dia" aos vizinhos que se me cruzam no prédio.
Quando não respondem - e, pode parecer estranho, acontece
recorrentemente não responderem - grito "Bom dia!". A
medo, cheios de temores e vergonhas, acabam por lançar um "Bom
dia". Sinto que fiz o meu serviço cívico.
CdA: És um bom rapaz,
então. Que perspectivas tens para o teu futuro?
R: Joseph Lemos e Tomás
Pizarro não diriam tal coisa, mas aceitemos que sou uma pessoa
merecedora de ser apelidada de "benfiquista" - orgulho
maior da nossa existência. Planeio comprar um moinho na zona de
Sintra-Mafra, pintá-lo todo de vermelho, com rebordo a branco, e nas
pás colar cabelos gigantes e bigodes monumentais. Na relva, a imagem
de Chalana e no corpo talvez uma omoplata de Coluna. De resto, sou
alguém que ainda espera por uma epifania. Venha um Juan Gabriel
comprar-me a bom preço. Não sou difícil: duas sandes de torresmo,
um Pata Negra e um beijo na testa. Sou vosso.
CdA: És dos poucos bloggers
que coloca vídeos de música nos teus posts. Tens uma paixão forte
pelo outro lado da música? Preferes o sentimento à diversão?
R: A primeira vez que vi
vídeos de música na blogosfera foi no 442 - blogue de grande
qualidade, de um homem que é muito bom no que escreve e sobretudo no
que pensa, mas que sofre de um problema grave de "anti-benfiquismo",
o Master Kodro. Gostava de um dia ir beber uns copos com ele,
perceber se aquilo é tudo provocação - que eu, compreensivelmente,
corroboro - ou se é mesmo doença. Às vezes coloco música nos
posts por duas razões essenciais: porque não faz sentido vida (seja
de que tipo de sentir for) sem música e porque acontece estar a
escrever um post que me lembra uma música específica. Por outro
lado, acho que completa bem o texto e dá aquela estrica necessária
ao "booom" que se pretende - eu pelo menos leio o texto e
vou depois ouvir a música e fico booomado. É uma questão de
carola. Sentimento versus diversão? Mas têm de ser inimigos?
CdA: A ideia que dá, pelo
menos a mim, é que aborda mais o sentimento da música, porque está
ligado ao post. Mas a isso já respondeste. Outra característica
quase única que tu e o teu blog possuem é a da escolha rigorosa da
semântica utilizada nos posts. És um perfeccionista ou isso é tudo
parte do dom que tens no campo literário?
R: Dom têm os grandes
escritores. Ainda não encontrei ninguém que tenha mais "dom"
do que o Proust, o Zola ou, em solo nacional, o Sttau Monteiro. O que
se passa na blogosfera é um ajuntamento de letras, por vezes -
muitas vezes - de tão fraca qualidade que desespera. Naturalmente,
tudo o que saia desse lamaçal é visto como algo de transcendental.
Não são raros os comentários no nosso blogue com cores vistosas:
"genial!", "absurdo de bom", "fantástico",
frases que eu leio com simpatia e que agradeço mas sejamos francos:
o que ali é escrito tem momentos de alguma qualidade, mas que não é
nada de outro mundo. Não sou um perfeccionista, escrevo por impulso
e sem emendar, vai tudo a eito, como quem chega a casa todo fodido,
liga a tostadeira e enfia fatias de queijo e fiambre no pão. Depois
come-se.
CdA: Há espaço para a
leitura no Benfica? Existe algum autor que escreva com qualidade
sobre o Benfica ou os melhores são mesmo aqueles que têm colunas na
Mística?
R: Vamos esquecer os
textos enfadonhos da "Mística" e d´"O Jornal do
Benfica" - é tudo tão básico que dá pena. Claro que há
espaço para a leitura no Benfica, o universo benfiquista é tão
vasto e tão cheio de gente talentosa que é quase uma heresia (é
mesmo uma heresia) não termos nos nossos próprios órgãos pessoas
capazes de soltarem o sonho. Se eu fosse responsável por tais
publicações, logo à partida teria Lobo Antunes, Ricardo Araújo
Pereira, António Victorino d´Almeida (um genial escritor que sofre
de viver num país no qual só podes ser uma coisa - "és
maestro, não te armes em mais nada"), Leonor Pinhão e gente da
blogosfera - o Carlos Silva ("Tertúlia Benfiquista"), o
Armés (daquele blogue com números - beijinho, Diego), o M. ("Lá
em casa mando eu"), o JAS ("Ilíada Benfiquista") e
outros que potenciem o Benfica ao patamar que ele merece. O Benfica
não merece banalidade, merece dignidade, classe, maravilha.
CdA: Qual o jogador que mais
te influenciou no Benfica? Não digo o que mais gostaste de ver
jogar, ou o mais popular, mas sim aquele que de alguma forma mudou a
tua forma de estar. Existiu ou existe algum?
R: Quatro: dois altamente
polémicos; dois bem recebidos pela gente benfiquista. Nos polémicos:
Paulo Sousa e João Vieira Pinto. O primeiro foi uma lição do
futebol moderno que vi no princípio dos anos 90. A forma como o
Paulo Sousa jogava em 1991 ainda hoje é futurista: absorveu toda a
cultura da agressividade e do apoio aos centrais que o médio
defensivo que vinha dos anos 80 tinha e juntou-lhe tantas
especiarias: ficar com a bola, rodar o corpo, qualidade no passe,
entregar só quando faz sentido, passe longo quando merece, entrada
pelo meio-campo adversário quando a equipa precisa de apoios,
elegância, classe, constante ajuda ao portador da bola. Tudo isto
Paulo Sousa tinha como ainda ninguém teve - Redondo não conta.
Depois, João Pinto, um dos melhores futebolistas que vi jogar - não
sei descrever um homem tão talentoso; chamo para a mesa de operações
o golo que marcou contra a Alemanha, o golo que afinal não foi - um
génio que nunca foi melhor do mundo pela FIFA ou UEFA ou FPF, mas
que teve meses em que foi de facto o melhor jogador do Mundo. Nos que
são "verdadeiramente benfiquistas", Valdo e Vítor
Paneira. Valdo porque, enfim, tratar a bola com tanto carinho,
recebê-la, deixá-la jogável, como quem vai agora tirar uma foto ou
cortar o cabelo, sinceramente nunca vi - a sensação que dava era a
de que o Valdo estava a tomar o pequeno-almoço num relvado em frente
a casa, comia croissants mistos e bebia galões, enquanto 100 gajos
lhe atiravam bolas altas a 50 metros que ele, no intervalo de uma
trinca, recebia no peito do pé e elas ali ficavam, a rodear a mesa.
Era absurdo. Sobre o Paneira, o que dizer? Aquela anca enganava a
Merkel. O Paneira nunca teria ido para um campo de concentração, se
aparecesse em frente a 40 SA. De alguma forma, ele fintaria o comboio
para Birkenau.
CdA: Para finalizar, e porque
não há entrevista aqui na nossa barbearia que não fale do
padroeiro, o que tens a dizer de Pablo Aimar, no passado, no presente
e no futuro.
R: Tenho de certeza
coisas a dizer. Só não sei o quê. Enquanto penso, aproveito para
divulgar a iniciativa que o Diego Armés teve no seu blogue -
escrevam textos sobre o Pablo Aimar, o que vos apetecer, odes ou
haikus, o que vos aparecer ao instinto. A ideia é ter um autocarro
de depoimentos que serão passados a livro, um dia destes.
O que tenho a dizer sobre Pablo Aimar?
Vamos ouvir isto.
É raro mas acontece: há jogadores que
às vezes trasnscendem o Benfica na doença. Este ano tive uma
destas: perdido de ais, uis, chás de tília, festinhas da namorada,
conversas dela: "não vás ao jogo, estás perdido de doente",
comprimidos, dores, vómitos. Nesse dia, para ir ver talvez um Paços
de Ferreira ou então um Olhanense, levantei o cagueiro da cama para
ir ver o Aimar. Não fui ver o Benfica, fui ver o Pibe Imortal. Às
vezes acontece.
27 comentários:
Uma delicia...
obrigado, Ricardo e Vendetta.
E X C E L E N T E !!!!!
Porra...que brutal entrevista. Perguntas boas e respostas do melhor q li.
Ricardo, tens o meu voto!!!!
Isto é autentico Serviço Público, feito por dois enormes Benfiquistas!!!
Parei aqui:
"...Do que não gosto é de gente que não sabe conviver com opiniões contrárias..."
Fodasse, tanta hipocrisia!
Embora o Ricardo não goste do elogio fácil e 'monocórdico', numa só palavra - Brilhantes!
A entrevista, o entrevistado pela forma e na maneira franca, como expõe o seu benfiquismo e o Vitto que a elaborou e conduz.
Parabéns! A ambos(os 2, hehehe!).
Abraço Glorioso
Não gosto do blog do Ricardo, e por norma dos seus posts, mas tenho de elogiar a entrevista. Espectacular, tanto o entrevistado como o entrevistador.
Saudações Gloriosas
esse lemos é roto!
...de fonte segura.
Belíssima perguntas. O resto torna-se fácil.
Abraço, Vitto.
O nosso Benfica continua vivo e bem vivo!
Algo de bom tem de nos acontecer a todos... eporquê?
Porra porque nós merecemos, é pouco?
Boas malta.
Gostei muito da entrevista mas tenho que dizer que se há coisa que não gosto na blogosfera é pessoas a aplicarem o rótulo e bom e mau benfiquista a outras.
Não faz sentido...
Grande abraço!
Acho piada esta mania dos yes-men acharem q os benfiquistas que não gostam de Vieira e das suas decisões têm a obrigação de apontar alternativas e opções claras e concrectas.
Vieira conseguiu esta proeza de eliminar toda e qualquer discussão sobre o SLB. Se não tens contactos com os Bancos, se não tens conhecimentos no mundo empresarial, se és um simples benfiquista anónimo então não podes opinar sobre o SLB.
Será q esta malta não tem vergonha qd se olha ao espelho???
A questão do contraditório colocada pelo Pedro é importantissima - se nos acontecer não existir alternativa - os Vieiristas talvez possam pedir mais coerência estratégica, mais acção concertada, mais rigor técnico, mais decisões úteis, mais espirito de vitória... sei lá só numa de ganharmos de novo qualquer coisa substâncial... estarei a exagerar no pedido aos vieiristas????
Bem...sou muito leitor e pouco comentador, mas tenho que vos dizer: Parabéns! Grande malha!! Um prazer ler, de início ao fim. Vê-se que é bom quando chegamos ao fim e damos por nós com aquele sorriso pateta, ainda a digerir.
a entrevista é uma lufada de ar fresco ...
por mim, eu só odeio a incompetência que grassa em certos sectores do nosso clube, porque é por demais evidente e redunda em derrotas inevitavelmente ...
Excelente! Curiosamente sofro picadas dos mesmos indivíduos mencionados pelo Ricardo! Só que não tenho metade da classe dele! Parabéns!
Bem agradável e engraçado de se ler de facto, só é pena algumas partes que no fundo confirmam - parabéns pela franqueza - muito do que se vêm dizendo na Gloriosasfera. Espero que não me levem a mal, mas como o entrevistado é alguém que dispensa elogios e prefere críticas, vou-me deixar de lambessices e passar a escrever sobre o que não gostei:
A resposta à pergunta nr. 17 é à Lagarto. Não, o Benfica nunca foi e não é isso. No dia em que o Benfica for tomado por essa mentalidade, é o início da sportinguização do nosso clube.
O Benfica tem MONTES de Blogues dedicados a si por essa blogosfera - e não estou a contar com o meu miserável espaço de rascunhos obviamente. Mencionar e elogiar aqueles que na sua maioria estão contra a actual direcção, dando a entender que tudo o resto é PURA MERDA, não é o que eu espero ler de um Benfiquista saudosista e que diz não suportar quem conviva mal com as opiniões e visões dos outros. Para mais quando no Blogue do Ricardo e em alguns dos mencionados se pode sentir o asco e desprezo a tudo o que não partilhe da mesma visão ou que não siga a mesma linha de comunicação.
O Benfica tem excelentes Blogues, alguns que para mim são bem melhores e mais Benfiquistas do que os mencionados, isto apesar de não achar estes últimos UMA MERDA, bem pelo contrário.
Quanto à exigência de qualidade: não faz sentido quando se seguem espaços todos tortos só porque dizem mal.
Cumprimentos Benfiquistas e mais uma vez parabéns pela entrevista.
Grande entrevista, os meus parabéns! Não posso é deixar de sentir uma pontinha de inveja. Pela entrevista em si ( quem me dera ter um assim no meu tasco) e por ver que ainda há muita, mas mesmo muita gente que vive o Benfica de uma forma que eu já vejo poucos a viver o Sporting.
clap clap clap vitto e ricardo.
Pois é, o Benfica não coaduna com o maniqueísmo que se quer impor: vieiristas de um lado e anti-vieiristas do outro.
Fodasse, se um gajo reconhecer algo de bom feito pelo Vieira ou se discordo de alguma crítica que lhe é dirigido catalogam-me logo de "yes man"?! Pó caralho!
"Os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar."
( Sêneca )
Às vezes questiono-me se não seria o melhor para o Benfica que a direcção fosse constituída por Bloggers como o Vito e o Ricardo...
Excelente entrevista. Leio os blogs dos dois e deixo-vos os meus parabéns. A todos.
Eia ca moral do caralho!!!
Tiraste a viola do saco tão depressa, Ricardo. Vê lá se o boloposte não te vem dar o arroz outra vez...
Se esta entrevista tivesse como alvo um clube em abstrato até tinha graça.
Meter o Benfica na galhofa, fodam-se vão para o caralho.
Não gostam do vieira, vão-lhe aos dentes. Ou só o Proença é que vai ao colombo?
Que entrevista de merda!! Fodasse, esse cabrão é um hipócrita do caralho!!! Aproveita qualquer merdinha para mandar abaixo... Fizeram um post tendo por base a seguinte frase proferida pelo Vieira: «Vamos contar com um plantel que qualquer clube na Europa se orgulharia de ter»
O anormal de merda escreve completamente fora de contexto e aproveita mais uma vez para insultar o Vieira, nem sequer se deu ao trabalho de ler a merda do texto inteiro! Que bandalho...
@ Berrante De Encarnado
Disseste tudo!
VIVAS ao SPORT LISBOA e BENFICA!!!
-Brilhantes reflexões dum Ser Benfiquista deste tempo.
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