ANDO A PÔR OS CORNOS AO BENFICA (ou) A outra crónica do Ninense

Esta é a crónica que escrevi para um Jornal que não chegou a sair, por motivos óbvios. Deixo-a aqui, também para saberem um dos motivos da minha ausência, ultimamente.

"A viagem começou bem cedo, ainda antes do meio-dia. Fui à redação, peguei na carrinha e zarpei para Vizela, sem saber muito bem onde ficava a Vila de Sta Eulália, mas não foi difícil de lá chegar. Os meus domingos agora são assim, pegar no material e seguir a equipa da AD Ninense, para onde quer que ela vá, e confesso que ando a viver uma experiência do caraças, a conhecer quatro panoramas que ainda desconhecia: - como é o mundo do futebol regional – como é o mundo da rádio – como é o mundo dos adeptos do futebol regional – conhecer locais de todo o país em trabalho – e está a ser FANTÁSTICO. Só há um problema no meio disto tudo: ando a trair o meu Benfica. 

É verdade… assumo-me aqui, ao fim de alguns meses a estagiar neste jornal, que sou Benfiquista. Compreendo que muitos achem isto pouco ético, mas da última vez que procurei ‘parcialidade’ no dicionário, não encontrei lá ‘jornalista’ nos sinónimos. Mas nem me preocupo muito com isso, imagino que seja pior quando a minha chefinha ler isto para editar, e logo lhe dê um piripaque. Eu sei que ela não deixará passar esta reportagem, até porque nem deve ser isto que os leitores querem ler, mas se passasse, também imagino a cara do diretor do jornal, prontinho para me mandar embora ao fim deste ponto final. Bem, avancemos... Ando a meter os cornos ao Benfica com o Ninense, e que bem que me está a saber esta aventura, onde vamos os dois para todo o lado, de mão dada, sofrendo e vibrando com os resultados, eu a estrear-me nestas aventuras extraconjugais, e ele a estrear-se nos campeonatos nacionais. 

Eu sei que o Benfica não anda nada contente, pois quando chego a casa, depois de cobrir o Ninense, já não tenho cabeça para o ver jogar, e sei que ele sente a minha falta, porque em tantos anos de relação, nunca lhe falhei como agora. Claro que ele desconfia que estive com 'outro', porque não cumpro as minhas obrigações em casa, mas, e voltando à minha amante, não posso dizer que será para toda a vida, mas como é a minha primeira, ficará para sempre no meu coração. 

No domingo, ao sair do campo do Santa Eulália, onde o Ninense jogou (e perdeu por 2-1) para a taça, um adepto do Nine meteu-se à frente da carrinha e disparou um "veja lá se diz mal do Ninense, que eles não jogam nada". Isso fez-me pensar no Benfica, e logo me veio uma saudade e alguns remorsos. O adepto do Nine pediu ao único jornalista que cobre o seu clube, para dizer mal do clube na única crónica ao jogo que sai em jornais. Assim torna-se complicado dizer mal do clube, porque se até aqueles que deveriam ser os únicos a preocupar-se com a estabilidade do mesmo, pedem que se reporte isso mesmo, o dizer mal do clube. 

Assim não dá. E não dá com o meu Benfica. Já chega de dizer mal, de criticar. Já chega de dizer que prefiro o Marco Silva ao Jesus (e isto já digo desde a época passada). Já chega de dizer que o Gomes da Silva quer tacho, e por isso é que barafustou no Dia Seguinte. Já chega de dizer mal do Cortez, do Amorim e do Artur. Já chega de dizer mal da overdose de sérvios. Já chega de dizer mal do presidente, que foi eleito novamente. Só há uma coisa que não chega: dizer que o Benfica tem que ganhar títulos. E, se agora ando numa aventura extraordinária com outro clube, daqui a uns tempos vou voltar a querer comer em casa, vou voltar a lutar pelo meu amor, mas não pode ser sempre arroz com arroz, está bem Jesus? Está bem, Benfica?"

E foi isto.

Deixo-vos também com um momento do relato, o meu terceiro até agora, com a promessa que, quando a minha prestação melhorar, volto a pôr qualquer coisa cá.