O Sporting e o Sistema - Parte I

É impossível tentar compreender esta fase quase trágico-cómica do Sporting sem falar no Sistema. A verdade é que os verdes, com o famoso projecto Roquette (não, não é aquele em que queria construir um parque de luxo com dinheiro público) parecem ter hipotecado qualquer hipótese de voltarem a ser um clube ganhador.

Mas o que é o Projecto Roquette?

A internet explica muito, mas existem várias versões.
Uns dizem que passou por vender a alma ao BCP, ficando o banco com direito a "travão" nos investimentos do clube. Não sei se o Benfica não terá o mesmo problema com o BES, mas tendo em conta a quantidade de jogadores contratados nos últimos anos, não me parece.
Outros, mais exigentes, dizem que o Projecto Roquette passava pela construção de várias infra-estruturas e pela colocação de gestores com experiência para salvar o passivo do clube (isto em 1997). Daí veio o estádio e o centro de treinos, mas o pavilhão das modalidades ficou esquecido e muita coisa já foi vendida como Alvaláxia. Os gestores, esses, não duraram lá muito tempo e alguns ainda estão a receber parcelas das suas indemnizações.

Mas, o que nos interessa realmente analisar neste texto é mesmo o pacto criado com Pinto da Costa durante os anos de Roquette. Muitos sportinguistas não acreditam que houvesse algum plano de alinhar com o Sistema, porque não acreditam no Sistema. Ou pelo menos não acreditavam, até agora. 2 títulos no pós-Roquette, e um período qualificado de "ouro" por notáveis sportinguistas, onde o Sporting conseguiu 4 segundos lugares consecutivos, na era Paulo Bento, foram sempre argumentos convincentes para que os leões não entrassem por esse caminho. Mas João Rocha, mítico presidente acarinhado pelos leões, revelou que foi apresentado por Roquette um projecto numa AG do Sporting, que lesava "de morte" o clube, mas garantia a classificação para a Champions todas as épocas. João Rocha não revelou o teor desse projecto mas não é difícil perceber que passava pela vitória do FC Porto, e pela garantia de que o Benfica não terminaria acima da 3ª posição. Como? Árbitros. Liga. Federação. Arturjorgização.

Mas houve, no Sporting, quem tentasse combater o projecto Roquette e conseguir mais do que um 2º lugar, independentemente dos 2 títulos conseguidos na viragem do milénio. Dias da Cunha, não deixou grandes saudades na altura, mas cada vez mais é recordado como alguém que "afinal não era assim tão maluquinho". Apesar da sua luta constante, Dias da Cunha errou ao apontar Valentim Loureiro e Pinto da Costa como sendo o Sistema, porque isso é falso. O Sistema muda de rosto como quem muda de camisa, e existem vários factores de selecção para quem quer ser a cara desse Sistema. Pinto da Costa já não é o rosto do Sistema. Perdeu esse lugar para Joaquim Oliveira há já alguns anos, porque o dinheiro fala sempre mais alto, no que toca ao próprio Sistema. Quem não perdeu a oportunidade de se colar foi mesmo o presidente do Benfica, astuto e com muitos anos a "cheirar o cu" aos rostos dos maiores inimigos do futebol.

(Continua)